Vieste e foste,
«E ele me conhece o suficiente para saber que eu poderia até receber um estranho, mas nunca abriria a porta para alguém que de fato quisesse entrar.» CHICO
07/12/2007
"Para ti, desde sempre,"
Vieste e foste,
29/11/2007
Cartas de Coimbra III

E nada mudou porque continuo, contudo, a ser sozinha, digas lá tu o que disseres. Sozinha, de um amor impetuoso e obstinado, levando-te o coração nas mãos como dantes, com a diferença de que agora já não em silêncio. Agora com o luxo dos beijos intensos que pretendem compensar as tantas vezes que esperei por ti sem que tu viesses. O luxo das mãos dadas que, apesar de tudo, não consigo trazer quentes. O luxo de uma vida que empurramos prometida mas que hoje, eu sei - nada vai ser como nós quisemos.

28/11/2007
Cartas de Coimbra II

E esta música custa-me como nos custam os primeiros fins. Custa-me como nos custam as primeiras distâncias, as primeiras certezas, os primeiros impasses. Como te custam as músicas que falam do que ficou por dizer, mas que sentiste em todos os centímetros de ti. Em todos os lugares em que paraste e desejaste ter tido alguém para os partilhares e te partilhares a ti, assim, naturalmente. Agora, peço apenas que oiças. E que me oiças a mim também.
07/11/2007
Cartas de Coimbra I

Ainda na outra noite me pediram que falasse de ti. Sem querer, sem sequer esperar, chorei um bocadinho. E, sabes, por mais força, por mais máscaras, por mais persistência que juntemos ao rosto com que enfrentamos o dia... eu sei que no fim, eu vou chegar a casa e sentar-me nesta mesma cadeira e, novamente, tu não vais ca estar, tu não vais ligar, não me vais responder a mensagem que te deixei no computador para quando enfim chegasses a casa, e que depois de tudo isso, eu vou chorar, porque te sinto fugir, porque tu estas longe e eu longe estou, porque outras pessoas entram na tua vida e na minha também e o inevitável custa demasiado.
E nessa noite, por um bocadinho de lágrimas eu disse talvez tudo. Porque a vida hoje não me chega e dá me medo. Medo que um dia volte e tu já não esperes por mim. Hoje agarro-me aos últimos feixes de luz que entram pelos cortinados e escrevo-te sobre estas ultimas lagrimas que me secaram na pele. Amo-te como nunca achei possível. Como nunca me achei capaz. Mas a verdade é que te amo e esse será sempre um motor para perceber que no mundo o que se perde e se ganha é demasiado para admitir a individualidade como uma condição. Vivo de ti e da certeza que compensarás sempre tudo. Tudo, tudo... Da certeza de que sobre as lagrimas secas, outras tantas hei-de chorar. Por ti...
14/10/2007
Para ti, desde sempre,

19/09/2007
Coimbra...
Eu consegui o que queria. Foram três anos de uma interrogação extensa e demorada, de uma luta que não deveria ter levado tão a peito mas que deu frutos. Hoje sou estudante de Medicina e vivo a coisa como o despertar para uma vitória que outros tantos mereceram e não conseguiram. Mas eu consegui e parto, não tarda, para Coimbra. De braço dado com o Deus do meu mundo pequenino a jogar aos dados e a empurrar-me para longe de ti e de tudo o que é certo para mim. Coimbra. Coimbra, Coimbra, Coimbra. Todos me prometem um fundo nostálgico para os anos que serão os melhores da minha vida, apesar de tudo. E apesar de tudo, tu estás longe e eu não estou bem. E se não és tu que eu perco no meu novo céu, então sou eu que me perco nas ruas que descubro agora. As ruas de Coimbra.
E, sabes, peço, frequentemente e em segredo, para que o Deus do meu mundo pequenino me dê forças, porque, um dia, eu sei, chegarei a casa e quererei desistir. Tudo o que vejo é negro e chuvoso, tudo nevoeiro cercando uma vida que, de hoje em diante, é sozinha que se vê, na deriva de um universo de tradições, capas e batinas. Não foi isto que eu sonhei para mim. Mas é isto que tenho.
25/08/2007
Um Particípio Presente Mais Que Perfeito

E nesse dia, meu amor, tomara que possamos continuar tudo aquilo que deixamos em suspenso. Tomara que tudo pareça igual ao que é agora, que me ames com a mesma intensidade com que as mãos se procuram agora, com que os olhos se fecham e os lábios se esquecem de tudo. Tomara que a minha voz te continue a parecer familiar. Que o sabor dos teus dedos finos continue igual. Que tudo possa ser como é agora. Um Particípio-Presente-Mais-Que-Perfeito.
10/08/2007
À vossa espera...

29/07/2007

O que eu sempre quis foi poder amar-te sem medo do tédio ou de um qualquer enfastiamento precoce. Sem medo dos teus olhos vidrados e das tuas mãos suadas. Sem cansaço para o teu peito, sempre necessitado de encosto. O que eu sempre quis, o que eu realmente sempre quis… foi que reparasses em mim. Que me visses quando passava por ti e combinava contigo um café para mais tarde. Quando me dizias que Não por mero desinteresse.
O que eu sempre quis e o que eu realmente queria… é que não tivessem havido momentos de solidão. Que tivesses notado mais vezes no meu penteado novo. Que me tivesses convidado para tomar café contigo todos os dias. O que eu realmente quis foi ter podido impressionar-te ao segundo ou terceiro sorriso.
Mas isso agora não tem volta. Aprendeste talvez o quanto custa amar sem retorno. Mas achaste por bem amares-me mesmo assim, de qualquer maneira. Perseguindo o meu rosto e os meus braços ainda brancos, contanto os minutos para que eu voltasse para ti, mesmo vinda do abraço de outro. Agora falas de um amor diário e com rotinas. Falas da necessidade de me ver. Falas de uma saudade que eu não sinto. Tu agora és diferente. E, curiosamente, eu também. Sou capaz de prender-te e, porém, de te deitar fora também.
23/07/2007
Closer
Antes de mais preciso que saibas que não sei do que falo. Sou demasiado nova, demasiado ingénua e demasiado insegura para falar como argumento de autoridade. Coisa que não sou. Mas olho e vejo as pessoas a mudarem à velocidade da luz, olho e sinto que não sou capaz de suportar a inevitabilidade dos “felizes para sempre”.
Não se trata de não sermos capazes de amar. Porque somos. Somos mesmo… Amamos, mais não seja, aqueles que nos trouxeram ao mundo, amamos o nosso ego e os nossos valores. Porém, as relações humanas encerram coisas que desviam a nossa atenção para os detalhes errados. O Ciúme. Os Caprichos. A Traição. Uma perfeição que não existe em lado nenhum.
Penso nas relações que duram anos e anos. E fico siderada com isso. E depois olho e procuro pela individualidade de cada uma das partes. Uma individualidade esbatida num compromisso estranho e que, apesar de tudo, existiu desde sempre. Onde pára a noção de felicidade quando as pessoas parecem estagnadas, conformadas, à procura de relações paralelas, de mentiras piedosas, de fugas rápidas e silenciosas? Quando precisam apenas de fazer valer os seus compromissos para não se enfrentarem. Para não darem por si sozinhas. Quando tudo é feito para se estar encaixado nalgum lado. Para se seguir um estilo de vida adequado. Para se ser livre, preso num amor que é precário e que põe condições. Não sou capaz de conjecturar a eternidade de coisa alguma. Mas essa eternidade acontece e eu não consigo entender como. Ninguém permanece imune ao Tempo. Nem aos Acasos, nem às Tentações, nem a nada…
Closer celebra um amor leviano que cruza e descruza quatro vidas. Quatro vidas inverosímeis talvez, mas abraçadas a um tipo de amor bastante provável.
21/07/2007
Eu tenho saudades de quando era pequenina. De quando apertava nas mãos um destino com todas as hipóteses de futuro por definir. Quando eu ainda não era o que sou agora. E agora percebo que não é um sonho, mas um desejo, essa vontade tonta de puder voltar atrás e descobrir que, afinal, voltaria a escolher da mesma forma.
16/07/2007
A precariedade e a validade do Mundo

Acredito simultaneamente que o mundo é pequeno demais para que as pessoas da nossa vida se percam impassivelmente de nós. Vivo nessa esperança acesa de que em qualquer esquina, em qualquer fila de supermercado ou em qualquer estação de metro esteja uma cara conhecida de outros tempos. A tua eventualmente.
É como aquelas estranhas coincidências que nos fazem esbarrar com o mesmo sujeito dias seguidos, como se nos andássemos a perseguir mutuamente. É o primeiro Olá que o sorriso de engate traduz, quando à tua volta tudo é som e música e tu o que queres é ser levada pelas estrelas. É o segundo olá quando de manhã acordas e ainda te lembras do que sonhaste. O terceiro, enquanto não tens lume para lhe dar; o quarto quando descobrem que o mundo é afinal um mundo de acasos e de coincidências que se encaixam na perfeição. Quando vocês dois foram feitos para trocarem esses olhares inflamados e seguirem destinos diferentes. E depois não serão precisos mais sorrisos. Chega-nos o rosto. A presença de um desejo que te tenta a seres infiel a ti própria.
Hoje acordei e o que eu mais queria era trair-te. Embarcar numa viagem bem rápida para me sentir bem comigo própria – quanto engano!, dirias tu. Mas é o que sinto. A falta das frases clichés, da troca de números de telefone, de cafés a serem prometidos e, um dia, para nosso desgosto, a serem cumpridos. A falta daquele bicho mau que é a vaidade, a luxúria disfarçada de carência.
10/07/2007
04/07/2007
24/06/2007

É por isso que a matemática é importante para os que se preocupam com os pormenores. Porque matematicamente nenhum caminho é igual conforme a perspectiva que temos. Será sempre diferente, a paisagem, o módulo da força motriz que te empurra numa viagem de regresso, os custos do coração, a traumatologia de um sorriso captado cedo de mais. O que eu sei é que os felizes não concebem filosofias. Vivem-nas e melhoram-nas. Os felizes não escrevem poesia. Nem sequer má poesia. O que eu sei é que serei sempre incompleta: faltar-me-ão sempre a felicidade dos tontos ou as palavras dos lúcidos. As mãos cheias de tudo ou o medo de perde-las. Faltar-me-á sempre paixão pela vida ou a própria vida. Nunca terei as duas coisas em simultâneo. Nunca serei completa. Quer eu enviese pelos caminhos de sempre ou por novos destinos. Quer eu aprenda a amar-te como amam os tontos, quer eu te minta como mentem os lúcidos.Mas isso agora não importa. Não sei escrever-te com postulados lógicos para que depois possas deduzir que sou assim ou assado. Eu sou um emaranhado de sentimentos que se renovam de hora a hora, segundo o que a matemática e as circunstancias ditarem. Por isso preciso que me conquistes todos os dias. Preciso que sejas difícil. Um mistério que me afunda no calor mais ténue do mundo e que permanece insolúvel.
20/06/2007
"This years love had better last"

Ouves esta música? Foi o primeiro motivo que me destes para desistir. Eu partilhava contigo o bocadinho de insuficiência que era e tu não notavas. Nem tu, nem mais ninguém - só ele. Só ele… Não podes, pois, fazer-me crer que ele só me trouxe mal, quando eu sempre te procurei a ti nos lábios dele e tu não me soubeste atender.
A vida é eterna em 5 minutos, sabes? Durante os meus 5 minutos. Os meus 5 minutos de eternidade quando olho para o relógio e reparo que tu não vens mais. Nunca mais. E ele, ele virá, porque ele vem sempre. Basta chamar. Mas tu não. Tu nunca vens. Tu escolhes os teus 5 minutos e reparte-los de forma a somares segundos perdidos nessa tua vida de intermitência e de amores adiados. Preciso que pares de ser apenas espírito e te tornes homem. Pelos menos, por 5 minutos. Durante os meus 5 minutos. Não importa o sítio. Por hoje até te deixo subir. Quero ter a certeza que por 5 minutos me pertences e que, ao me abraçares, é a mim que abraças e a mais ninguém.
12/06/2007
Normalidades...
Irrita-me viver assim. Irritam-me as pessoas formatadas de um único modelo, que partem dos mesmos ideais, que consomem as mesmas drogas, que gozam férias nos mesmos sítios, que se vestem de igual, que lêem as mesmas coisas, que são únicas e especiais de corrida, que não fodem de noite nem dormem de dia. Que estão gordas o ano todo e magras apenas aos olhos dos médicos. Que estão actualizadas mas não sabem discutir política. Que falam falam, mas que nunca dizem nada…
09/06/2007
Fim do Princípio, dizem eles...
Estou cansada… imensamente cansada… seguro a cabeça nas ombreiras das portas, durmo de dia porque de noite oiço as dores de ouvidos, penso em ti e na impossibilidade de te ver enquanto for melhor assim para os dois. Estou cansada… imensa e absurdamente cansada… Não tenho sequer espaço para a nostalgia. Para a saudade. Só tenho espaço para a razão prática que me ensina a somar logaritmos com equilíbrios químicos e com forças electromotrizes. E, claro, tenho também um espaço cativo para ti e outro para Deus, luzinha de cabeceira que me dá sarcasmo o bastante para que tudo isto seja uma brincadeira de crianças e a realidade um sonho mau.
02/06/2007
6.ª Edição do Canto de Contos
Ele já leu a biblioteca inteira, e pressupondo que isso até é verdade, o que ele escolheu ler foram os clássicos, os Émile Zolas e os Jules Vernes, os Torgas e os Tolstoi. Ele deu mil e uma voltas ao mundo em oitenta dias, naufragando na pessoa tão imediata que é ao duvidar dos génios e dos inovadores. Ele cursou e mestrou, falou-me de filosofia e de física, ficou em silêncio quando devia ter falado, percebeu tudo o que fiz e escondi a vida toda. Porque ele sabe, eu sou igual a ele...
E além de tudo isso, ri de piadas sem graça, vive do e para o desporto que a televisão e os jornais transmitem, não perde um jogo das ligas inglesa, espanhola ou portuguesa, é burguês, bebe cerveja e fala comigo sobre Pessoa, religião e cinema. É autoritarista e desarrumado. Tem o melhor coração do mundo: dá, acha que necessariamente tem de dar e fá-lo com um desprezo notável pelos motivos com que o faz. Fá-lo com a lógica matemática como só os homens mais geniais do mundo conseguem. Racionalizando a bondade. Achando-a tão óbvia e fácil que nos mete confusão como podem as coisas ser diferentes noutros lugares.
A vida com ele é difícil. E porém, sem ele, seria muito mais. Sei que, da idade de onde falo hoje, nada seria possível sem o seu apoio. E é a mais absurda das verdades quando digo que foi ele que me deu o mais fantástico dos votos de confiança. Ele é a minha Pessoa de eleição. Diga lá eu o que disser… :)
29/05/2007
(Preciso de me ouvir para te poder escrever todas estas coisas – pois as ideias flutuam cá dentro a meia luz, quando sinto o repetir das tuas mãos nas minhas mãos e da tua voz na minha voz.)
Tenho um medo dormente e desgastante que me mostra porque nunca relação alguma funcionou comigo. E, contudo, eu seria capaz de magoar qualquer um, mas não a ti. Acho que não precisaria do inferno para me condenar, eu mesma me condenaria a um inferno de vida onde o remorso nos engole e suga até à raiz inocente do que ainda somos.
Por isso mesmo, tenho medo. Medo de dar os passos errados, mostrando-te a parte de mim que não faço questão que conheças. A parte estupidamente vidrada no efeito banal que os corpos conseguem quando se entregam assim, de mão beijada. A parte de mim que não questiona nada e garante um amor de poesias com fenómenos de telenovela. A parte de mim que tropeça nos mesmos erros a cada novo encontro. A parte de mim atormentada pelas dúvidas, dividida por formas de afecto que nos assustam, e aproximam, e afastam, e existem para adiar a felicidade plena que deveríamos ter encontrado hoje, ao virar da esquina.
Tenho um medo dormente de não ser o que procuras ou que nos tornemos naquilo de que sempre fugi: os amores condenados à rotina, às comparações, aos registos de memória sobre o que falámos e fizemos, e não falamos, não fazemos nem somos mais… Queria ter tempo para descobrir que o medo não tem razão de ser… Mais que isso, queria ter uma bola de cristal que me mostrasse que a vida nos promete pelo menos um Natal juntos. Pelo menos um lugar na memória para que no futuro não sejas mais um, para que no futuro eu procure outros tantos iguais a ti, comparados a ti, mais pequenos que tu, invisíveis ao teu lado.
Tenho um medo dormente de te perder.
18/05/2007
Ponto Final, Parágrafo
Numa semana as coisas mudaram e eu sinto-me igual. Talvez porque não acredito que as coisas tenham realmente mudado. E eu confessei-te, e tu confessaste-me. E a imensidão de textos que te escrevi até hoje são, afinal, indícios de afecto demasiado falsos, demasiado meus, indícios que não falam de como realmente me senti durante estes últimos meses, arrastada num semi-sentimento, que não era nem saudade, nem a isenção desta.
Quero realmente que este texto seja um ponto final, parágrafo. Que entendas que leres e saberes, enfim, que é para ti que sempre escrevi, faz toda a diferença. Impedir-me-ia de continuar, ou não tivesses tu prometido que jamais voltarias. Ou não fosses tu entenderes que esta é a minha única forma de liberdade garantida…
Porém… não sei que te adiante mais. Sem que te o dissesse, saberias responder a quem te perguntasse por mim, que voei. Sem que me ouvisses, lerias na minha expressão tudo o que precisarias de saber. E a única coisa que não sabes e que não poderias, de forma nenhuma, saber… é que dentro de mim ecoa todos os dias a mesma e repetida pergunta. Onde estás?
14/05/2007

11/05/2007
Um ano depois...
Faz um ano que o mundo parou e vestimos o luto. Sofremos muito… e depois a vida voltou aos carris, como não podia deixar de ser. Faz um ano que ele perdeu um pai e ela um marido. E fomos todos sentir com ela a dor imensa de um acontecimento para o qual não tínhamos ensaiado. O mundo parou. Literalmente. E nós, parados com ele, viajámos até lá, até onde as origens nos levam. Eles foram no próprio dia mas eu tive de esperar. E esperei. E depois, embarquei enfim na viagem mais silenciosa da minha vida. Acho que nem me ouvia a mim mesma. Toda eu era silêncio. Uma espécie de cimento endurecido, mal vestida, com o primeiro preto que vira no armário, com a expressão petrificada que me ficara desde que ela dissera “O avô morreu”.
A vida é mesmo assim, dizem. E assim mesmo é a nossa desorientação quando algo falha. Hoje sei que naquele dia algo falhou para que algo mais se encaixasse.
O tempo passou demasiado depressa. E ele foi o único avô que conheci. O único que me conheceu, o único que me ensinou canções de Natal. O único avó que me falara de outros tempos, que emigrara, que regressara. Mas minto-te se te disser que é nisso que penso quando aquele dia me pesa. Minto-te se te disser que pensei nele todos os dias da minha vida. Porque não pensei. Mas pensei todos os dias no meu pai. Na voz carregada de um remorso estranho de quem fez na vida tudo o que havia para fazer e fê-lo bem.
Todos os dias penso em como foi importante que as pessoas, por um dia, soubessem quem eu era e me dessem os sentimentos. O artificio dos gestos que são afinal importantes. Demasiadamente importantes. Tal como a precariedade da vida.
O mais importante foi sem duvida o manifesto de amizade que alguém trouxe. A manifestada presença de tantas pessoas, que não serviam afinal para conversas de café apenas. E que estavam ali, porque sentiam a obrigação de ali estar, não para enterrar os mortos, mas para abraçar os vivos.
Naquele dia eu teria carregado de bom grado a tristeza do meu pai. Eu teria dado tudo para o aliviar. Há pessoas que nós julgámos a vida toda que não choravam, mas que naquele dia choraram. E nós choramos com eles.
Hoje, onde quer que ele esteja, sei que o avô é senhor da Verdade que todos procuramos. Hoje, com pelo menos um ano de avanço sobre nós, ele saberá se estamos certos ou errados quando amamos desta forma, quando aclamamos Deus um Homem pregado numa Cruz, quando recordamos todos os anos os nossos mortos.
Porque eu acredito nesse Homem pregado numa cruz. E na precariedade da vida também. E nas segundas, terceiras e múltiplas oportunidades que a vida trás e reinventa.
08/05/2007
6.ª Edição do Canto de Contos
Está lançado um novo desafio! Convidam-se membros e não membros do “Correr da Pena” (e todos os que se quiserem juntar a esta iniciativa) a participar em mais um Mote literário. A ideia é publicarmos em simultâneo, no mesmo dia, à mesma hora, um texto (literário ou não, abordado da forma que quiserem) sobre um tema predefinido.
O tema deste novo desafio será dedicado a Uma Pessoa. Escolham-na. Uma pessoa importante, como um pai, uma mãe, um irmão, um avô, um melhor amigo, um namorado, um filho, um professor; ou uma pessoa não tão importante mas REAL, como uma vizinha, alguém com quem nos cruzamos todos os dias, o homem da banca dos jornais ou do café da esquina, o carteiro, enfim… quem quiserem. O importante é que rode em torne de alguém a quem possamos dar forma, personalidade e espírito (e contexto, já agora…). E idealmente… que seja real.
A publicação deve ser feita dia 2 de Junho , às 21h30 (data e hora sujeitas a alteração caso não forem adequadas para alguém).
Convidamos desde já os seguintes bloggers…
06/05/2007
When "2 become 1"...

Queria enfim dizer-te mais do que o que o bom-senso sugere. Numa carta aberta, sem o risco de mais um desencontro. E então contar-te que existem coisas que desejamos demais para que, de alguma forma, se realizem. E se tal acontecer, será afinal só mais um forma camuflada de nos roubarem os sonhos, as fantasias. E não importará afinal que a tua distância se conte em quilómetros, horas ou numa outra forma sobre a qual eu nada possa. Porque tens sido tão mais real no meu imaginário do que a mão dele no meu ombro e na minha vida. E talvez por isso não careças de sol, cuidado ou sedução. E se estás ou tiveste ausente, eu reparei. E é para ti que escrevo. Hoje e talvez desde sempre.
03/05/2007

30/04/2007
"In My Place"
Somos amigos. O que mais podíamos ser? E ninguém deveria partilhar dessa realidade senão nós. Mas eu digo a todos, e digo ao mundo em redor, que somos amigos, que somos dois adolescentes a saltar barreiras de uma vida demasiado simples para ser simples. Interessa-me que durmas apoiado no meu ombro ou que me deixes dormir no teu. Não quero um beijo teu, mas um abraço. Interessa-me acordar e ver os teus olhos poisados nos meus, duas mãos dadas debaixo dos cobertores a respirar o mesmo calor… sem que nada mais nos apeteça.
Uma espera… é disso que a música fala, não é? Ou melhor, é disso que a música nos fala, quando estamos juntos. Do encaixe perfeito que os nossos sorrisos têm quando confirmamos que as almas gémeas não existem, nem se esperarmos uma eternidade inteira por elas. Somos duas peças nada simétricas que se encaixam. Ou pelo menos hoje acreditamos que sim. Amanhã, quem sabe? Talvez voltemos costas um ao outro e sigamos caminhos perpendiculares demais para se voltarem a unir. Ou pudemos vir a ser duas linhas curvas que se afastam e se aproximam quando o coração assim entende. Como se o coração entendesse coisa alguma! Não entende, mas nós, em código, fingimos que sim. Luxos que a amizade tem, mas que as paixões não permitem. Adoro esta música, quase tanto como fazer as pazes contigo e não esperar de ti mais do que o que me dás.
27/04/2007
24/04/2007
Digam lá o que os blogs disserem...
23/04/2007
"70x7"
2 – Perdoar
3 – Fixar nomes, caras e números de telefone
4 - Gestão do tempo
5 – Discutir
6 – Textos expositivo-argumentativos
7 - Equações do 2.º grau =D
2 – Gestão de dinheiro
3 - Fixar os nomes dos realizadores dos filmes que vejo
4 – Contar piadas
5 – Ignorar a autoridade
6 – Fixar matrículas de carros
7 – Enquadrar-me em grupos grandes de pessoas
7 Coisas interessantes no sexo oposto
2 - Boa capacidade argumentativa
3 – Auto-estima ligeiramente excessiva :P
4 – Capacidade e gosto na diferença, independência de um grupo
5 – Um grande e poderosíssimo sentido de humor
6 – Mistério q.b.
7 – Parecenças com o meu pai :D
(what a man!) lol
2 - Que dia é hoje?
3 – ’Tás a falar a sério??
4 – Bolas, pa!
5,6,7 – (agora que penso nisso… acho que passo mais tempo calada que a exprimir-me em frases rotas de serem usadas… O que é bom ,certo? Não haver rotina nos diálogos :) …)
7 Actores/Actrizes Preferidas
2 – Johnny Depp
3 – Nicole Kidman
4 – Meryl Streep
5 – Leonardo DiCaprio
6 – Juliane Moore
7 – Robbie Williams
21/04/2007
Soho Café

Ela sabe que ele está mesmo atrás de si, mas não fala. A respiração dele voa-lhe entre os dois hemisférios da mente e entre as mãos. Ela precisa desse abraço. Mas ele não tem coragem. Talvez também ele precisasse de um abraço, pensa. Mas não um abraço dela, um abraço do mundo, das festas, das eternas e sonâmbulas festas que o mundo guarda, e que ela conhece mas não percebe.
Um carro chegou. Um carro chegou e parou. E ela diz, Vou-me embora. Até amanhã, diz ele. Não, amanhã não nos vamos ver. Nem depois de amanhã. Então até depois. Sim, até depois. E ela vai embora, mas antes vira-se e dá-lhe a mão. Fria. O rosto dela está diferente. Também a voz. Até depois, então. E despede-se com o que podia ser um último beijo. E depois vai embora. Alguém espera por ela do outro lado da rua. Junto ao carro. Leva consigo a bagagem. Vai embora por muito tempo. E o que lhe deixa não é, afinal, um último beijo, mas um papel dobrado em quatro. E ele abre e entende.
"Se perguntarem por mim, diz que voei"
19/04/2007
Closer

Dou as mãos a quem encontro livre para me as dar também, que por norma sou eu própria, ainda que às vezes a necessidade de um abraço se imponha primeiro e o que sobra então não sou eu, mas as minhas mãos vazias. E depois as mãos seguram-se ao corrimão das escadas e o corpo desce de olhos fechados até perceber que não consegue ir mais longe. Porque caiu. É então que os olhos se abrem e o olhar avança sozinho. Procura uma ponta de céu onde voem vontades, mas toda a gente sabe que nas ruas escuras de Lisboa o céu fica longe demais, à distância de uma mão cheia de tudo e de um corpo erguido. Por isso, não sou eu afinal que sobro, mas as minhas mãos vazias, o meu corpo caído e os meus olhos fechados. Tudo porque hoje sou a mais miserável das raparigas que sobrevive à roda-viva deste amor de olhares e desencontros, enquanto tu me olhas e dizes tudo com a demora desse último olhar.
Uma cruel e hilariante e cinematográfica impossibilidade de sermos Nós
Mas depois penso melhor e contento-me assim. Contento-me com essa felicidade estanque de dois amores eternos que não podem ser confessados, nem mesmo às palavras. E então, sei que o que temos são meia dúzia de olhares enlaçados, olhares estes que em breve vão abrir mão de tudo o que partilham e, quem sabe?, se de algo mais também.
E então, sei ainda que as promessas, que roubámos um ao outro em dias que, em bom rigor, nunca existiram, têm uma validade muito, muito curta. Uma validade que parece querer levar-me anos de vida também a mim. Mas não a ti. E é isso que me custa: o quão desimportante e precário é encostar-me ao teu abraço e adormecer nele; o quão simples é ausentar-me da tua vida sem que tu dês conta; o quão injusto é acreditar em linhas paralelas que se prometem cruzar num ponto incógnito do destino, mas que nunca, nunca o conseguirão fazer.
Desculpa se falo sempre do mesmo. A cada fim do dia eu volto aqui, a este mesmo sitio, e sinto a tua falta. Porque tu estás em todo o lado e não estás em lado nenhum.
16/04/2007
Viva Forever
Feeling together, believe in whatever my love has said to me
Na volta, talvez eu não procure uma fase nova sem nada que documente o que fui e como os dias foram outrora. Talvez eu procure precisamente o momento de viragem. O momento em que eu acendo o isqueiro e vejo os rostos, os instantes, o simbolismo do que se foi e já não se é, a derreter, a esfumar-se, a reduzir-se a pó. Talvez o que eu procure seja a intensidade das lágrimas que se emocionam ainda com o crescimento e com a mudança latentes em nós.
14/04/2007

We might as well be strangers. Não sei bem se somos estranhos, se amigos, se vizinhos num mundo de palavras. Não sei se ficaria estranho se eu me aproximasse para lhe dar testemunho das múltiplas formas de um só Amor que eu conheço, se não acreditaria em mim. Só sei que a voz que calo, fala numa perspectiva que ele acha que não devia ser a minha. Só sei que muitas vezes a vontade e o entendimento não se encaixam na identidade que trazemos connosco. Só sei que não tenho idade para que acreditem em mim.
E por isso mesmo, tenho medo, muito medo, de dizer o que sinto. E o que penso involuntariamente também. Porque não esperam que o faça. Ouviriam o que tenho a dizer com dois ouvidos mornos e adormecidos, como quem não reconhece quem diz e que, portanto, presume que nada há para ser ouvido.
E talvez tenham razão. Mas não é isso que eu sinto. Quero falar porque acho que tenho alguma coisa para dizer. E algumas lágrimas para chorar nos ombros certos, mas isso agora não interessa. Quero falar porque não cresci em vão e porque já saltei obstáculos quase tão altos como estes. Quero falar porque os abraços não dizem tudo e nem esses achas justo que partilhe. Não quero ser igual aos outros. Não quero que achem que o sou. Não quero que banalizem, nem que desdenhem das verdades tão prudentes e absolutas que eu digo e sei.
E hoje reparo que, como eu, somos muitos a pedir exclusividade. Hoje eu reparo e sei que, na voz de uma comunidade inteira, somos estranhos a deixar de o ser e a descobrir que, além quilómetros, outra vida pensa igual, sente igual e, se não é igual, é um pormenor de contexto desimportante que não nos afasta nem aproxima, mas apaixona. Todos os dias. E por isso, eu sei que não cresci em vão e que não quero perder isto em que acredito. Não sou, afinal, só mais uma.