02/06/2014

Cartas de Évora VI

reflet. by moumine
Foi tudo há tanto tempo. Não consigo amar-te como amei o mundo e como sinto o mundo em estilhaços dentro do que me resta. Toda eu minada de lugares onde não podes entrar. São segredos e são histórias e são canções que já ninguém sabe tocar. A mesma memória, todas as manhãs. Como se não eu não tivesse acontecido de tantas outras formas. Os últimos quatro anos para nada. Só o desejo de voltar, só o desejo de ir. O prender-me dia após dia àquela tarde em Wazemmes. O esquecer-me para me lembrar. Tu de costas voltadas. Tu na minha boca. Tu tão longe. São meses e anos e hoje como naquela noite em São Paulo. E hoje como naquele cemitério em Paris. Ainda te odeio e ainda te amo de formas que não consigo entender. Preciso ver-te e preciso tirar-te da minha vida. Como a cruz que és. Um eterno fim por concretizar. Fui uma pessoa melhor porque te tinha, porque não te tinha, porque o tinha a ele, mas principalmente porque sempre o terei. O lugar na terra que repetirei por saudade todas as manhãs, até que a consciência me deixe. Não sei que amor é este, mas faz-me bem e adia a tristeza que és ainda na minha vida.

Foi tudo há demasiado tempo.