15/02/2009

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Acho que ainda estou numa fase da vida em que o secundário foi o período mais inútil que conheci. Preciso falar dele constantemente. No início achei que aliviava, depois tornou-se um hábito. Hoje entendo que faz sentido explicar-me na história daquele dia e hoje, mais que nunca, peço um feedback.


Percebi cedo que não me adaptava às pessoas – àquelas pessoas, entenda-se. Eu queria ir para a faculdade, queria fazer as coisas bem. Era insegura acima de tudo, mas tinhas as minhas convicções, sabia de que cálices não beberia para já, sabia que guerras poderia escolher. Aquelas não eram simplesmente as minhas pessoas.
Um dia aconteceu que os meus colegas de turma quiseram humilhar uma amiga. Se ser-se obesa não era suficiente, escolheram a pessoa mais frágil, a que era mais fácil pisar. E assim surgiram cartazes dela por toda a escola, com versos ordinários, testemunhando só e apenas isto – não gostamos de ti, vales menos que nós. Nesse dia aconteceu eu perceber que era a única, à excepção da visada, que não tinha visto aquele projecto nascer. Naquele dia percebi que aos dezasseis anos não havia ninguém que dissesse: vocês são uns porcos, não valem nada, isso simples e inquestionavelmente não se faz a ninguém! Tirei sozinha os cartazes. Fui a única que a abracei. Os amigos de todos os dias viraram-lhe as costas. Ninguém, porra!, ninguém se indignou, todos se riram. O fato do respeito e da rectidão que vestiam não passava disso mesmo: de aparência. A cobardia nunca foi virtude mas naquele dia enojou-me. Lembro-me – juro que me lembro mesmo! – da sensação de aperto do estômago, do frio, das lagrimas a cairem devagarinho. A raiva veio depois. Veio com o tempo, com a instabilidade da consciência que sabe que devia ter feito mais. Veio porque estava sozinha e isso era pura e simplesmente errado.

Isto teve lugar há quatro anos atrás. Espero que entendam a dimensão desta história, acima de tudo, deste desabafo. Definitivamente não vão sentir a mesma indignação através de um discrição tão sintética.O carácter de quem viveu esse dia estendeu-se a todos os outros dias e a minha voz muda também. De alguma forma acho que podia ter sido mais atingida e tranquiliza-me acreditar que a minha forma de estar me protegeu disso. Por algum motivo, é uma lembrança que não me deixa, que se repete diariamente. Eu sei que fiz muito pouco. Não trago a consciência tranquila. Sei também que não desperdiçaria uma oportunidade de vingança. Uma nova e derradeira oportunidade de reescrever as coisas, de envergonhar as pessoas pequenas, as medíocres, de corrigir as falsas memórias que deixaram.