20/06/2008

Cartas de Coimbra XII

Easy To Please - Coldplay


Esta é a única maneira de estar perto. Esta é a única forma de as coisas continuarem a existir na metafísica que é a distância entre nós. Eu dizer-te neste jeito – que é o único que tenho – que vejo a vida no significado das janelas entreabertas a pedirem-me que espreite e que continue a querer que tudo isto resulte. Tudo isto que somos tu e eu, e o silêncio que já não doi porque a vida nos enche, e os sentimentos que já não doiem porque crescemos e porque perder já não custa tanto assim.
Esta é a única forma de continuarmos lado a lado. Quando eu sigo a minha vida e tu segues a tua, entrelaçadas nas pausas do tempo. Este é o único meio de te falar. O único sítio para te abraçar. Estas são as músicas que te denunciam nos meus dias. As músicas que gritam o teu nome enquanto subo e desço Coimbra. Esta a melhor forma de passar pelos dias. Escrevendo-te. Dizendo-te tudo isto, que não preciso que oiças – que preciso apenas de te dizer.
E, sim, o destino traçado de forma imprevisível, sem que te possa prever o que vai ser de nós com o tempo a rasar a nossa vida. Com o tempo a amarfanhar a importância que demos às coisas de antigamente – sem já importância nenhuma, apesar de tudo. E, sim, meu amor, sim. Esta é realmente a única forma de estar que tenho. A única forma de expressão, por menos valor que dês às palavras traçadas assim, tão longes. Por mais silêncios que não faço nem sou capaz, mas que talvez preferisses.
Meu amor, a única forma de fazer magia que tenho – levar para aí, para onde quer que estiveres, uma última palavra de afecto que tenha aprendido com a minha vida sem ti. Uma última morada de sonhos onde sei que nunca vamos poder habitar – mas que hoje ainda somos capazes de criar de mãos dadas.
Love; I hope we get old,
I hope we can find a way of seeing it all.
Love; I hope we can be
I hope I can find a way of letting you see
That Im so easy to please, so easy.
Love; I hope we grow old,
I hope we can find a way of seeing it all.
Love; I hope we can be
I hope I can find a way of letting you see
That Im so easy to please, so easy.
(Easy to Please, Coldplay)

12/06/2008

Cartas de Coimbra XI


Coimbra não tem o Pôr-do-sol no horizonte. Coimbra não tem caminhos a direito. Coimbra traz o pôr do sol no rosto das pessoas a quem damos as mãos. O pôr do sol no recorte das árvores e das casas. Coimbra tem caminhos que nos fazem subir e ser feliz no cansaço dos fins de tarde. Coimbra, na sombra do que sempre quisemos ser e hoje, uma quimera perdida nas madrugadas turbulentas de um forma de estar que não a tua, mas a minha. Mas a minha mão estendida a pedir-te que lhe pegues e não a largues nunca, nunca mais. Mas a minha voz calada a pedir-te que toques para mim.
Gosto de estar aqui, sabes? De beber o vento como quem recorda o sabor de te ter comigo. Como quem volta atrás e tenta ver as coisas como as via antigamente: o contorno preto sobre os sonhos cor-de-rosa. E o pôr-do-sol que sobra dos olhares rápidos dos estudantes que passam. O instinto a revelar-nos que haverá sempre uma má desculpa para fingirmos que está tudo bem. O instinto a ganhar terreno e ainda agora a dizer-me ao ouvido que vai correr tudo bem. E que comigo não havia de ser diferente e que por isso crescemos e as coisas mudam para nós, tornam-se melhores mas mais pesadas, mais doces e mais amargas, tudo complica mas fica mais simples de fazer – faz-se pior, mas faz-se. Perde-se o brio nas coisas em que somos bons, mas continuamos a ter o vento a bater-nos na cara e o pôr-do-sol a encher-nos o ego. Quando, no fim de tudo, nós só queriamos que o sofrimento tivesse valido a pena.