29/11/2007

Cartas de Coimbra III


Sabes, por mais que diferentes, nada mudou. Nada mudou desde aquela altura em que éramos dois no parapeito de um conhecimento e de uma felicidade que nunca, alguma vez, viriam a ser realmente nossos. Nada mudou desde que eu soube, bem cá dentro, que te amava e que toda a minha tola tristeza era por, um dia, tu ires embora como a mais natural das consequências da vida.
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E nada mudou porque continuo, contudo, a ser sozinha, digas lá tu o que disseres. Sozinha, de um amor impetuoso e obstinado, levando-te o coração nas mãos como dantes, com a diferença de que agora já não em silêncio. Agora com o luxo dos beijos intensos que pretendem compensar as tantas vezes que esperei por ti sem que tu viesses. O luxo das mãos dadas que, apesar de tudo, não consigo trazer quentes. O luxo de uma vida que empurramos prometida mas que hoje, eu sei - nada vai ser como nós quisemos.

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E eu continuo a precisar de mim sozinha, porque tu não me podes entender – não quando eu te digo que penso e sei que a eternidade é demasiado (pouco) para nós dois. E hoje, meu amor, não dói tanto porque também eu vou precisar, um dia, de recuperar a parte de mim que quer ser mais que os homens, e que o amor dos homens, e que as relações dos homens. Também eu vou querer ver o mundo. Também eu vou querer cumprir profecias, roçar utopias com a ponta dos dedo, abraçar o trabalho e esquecer-me de mim. Também eu vou querer seguir com a minha vida, como tu hoje me mandas fazer. E nessa altura, meu amor, talvez me consigas ver de todos os ângulos e não apenas daqueles de que precisas. Talvez consigas harmonizar as palavras com os actos e até mesmo esqueceres-te de ti.

Prometo-te que serei feliz, der lá por onde der…

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Sempre tua,

...

5 comentários:

Filipe disse...

Não me verás mais.
Também a magia dos sonhos tem um fim.
Na verdade,
mereço mais eu ver-te
do que tu seres visto por mim.
in "a casa da infância" Fernando Alves

Bjs

V. disse...

Vieste e foste,

ignoro se poderás voltar. Ontem, ao partires,
não reparaste que me deixavas menos feliz. Embora
tudo ficasse feito e decidido não sei que incompletude me
abalou – talvez a espera.

Perdi-me absurdamente no caminho e, por momentos,
a luz libidinal do teu pensamento
fugiu de mim. As coisas deixaram
a concretude com que sempre as tinha conhecido.
Sem perspectiva, nem letra.

Ao regressar à terra, não quis escrever no teu caderno.
Arranquei-lhe apenas esta folha. Fui um pobre corpo.
Rasguei-me a mim próprio e quis deitar-me fora.
Por isso te deixo este bilhete.

Vieste e foste.
Não foi por isso que te amei menos.
Em mim, não se realizou a tua conjectura sobre a ressurreição da carne ________

Reconhecerás tu, neste impulso da visão, uma carta de amor?


Maria Gabriela Llansol

:)

Beijinho grandeeeee*

Anónimo disse...

perfeito o contraste das suaves fotografias com a doce amargura de tuas entrelinhas. nos perdemos, nos encontramos, saimos sem voltar, voltamos sem partir... por onde será que, no fim, iremos nos perder?

cá entre nós, espero que entre os braços mais confortáveis que pudermos encontrar.


fique bem,
beijo

http://mylifeonmute.wordpress.com

un dress disse...

bela promessa...




a cumprIR!!! :)

Filipe disse...

às vezes é difícil compreender que tudo passa e que, assim, não vale a pena agarrarmo-nos às coisas, ou pessoas, restando-nos apenas ser.