«E ele me conhece o suficiente para saber que eu poderia até receber um estranho, mas nunca abriria a porta para alguém que de fato quisesse entrar.» CHICO
20/12/2011
Cartas de Varsóvia
02/12/2011
Cartas de Coimbra L
10/11/2011
Cartas de Coimbra XLIX
15/10/2011
Cartas de Lisboa XIV
01/10/2011
Cartas de Lisboa XIII

jour de pluie. by ~moumine
As coisas ficam estranhas quando no balanço do teu regresso a casa (?) o teu coração parou, tornaste-te uma jornalista nas horas vagas, os teus amigos viraram-te as costas por seres empática demais e as tuas redes sociais estão em francês. Estás outra vez de partida, tens francamente demasiados projectos que não partilhas com ninguém e há mais estrangeiros que te abraçam na rua do que as boas memórias que te ficaram de Portugal.
As coisas ficam estranhas quando, no balanço de um regresso ao passado, os problemas repetem-se, tu ficas doente e a vida parece feita de últimos fôlegos que não queres perder – porque parar é morrer e tudo o resto na tua vida há muito que não respira.
Sabes que as coisas se tornaram estranhas quando os homens da tua vida te usaram e que tu os usaste e que não és capaz de acreditar em coisa nenhuma porque o homem que tu querias é feito de horizontes fechados, gosta de meninas magrinhas e tontas, e tudo isto se tornou num lugar-comum, como quando ambos tinhamos 15 anos. E tu tens a certeza que és no mínimo um 8 na cama.
Sabes, enfim, que não há milagres. És mais bonita nas vidas temporárias dos outros, do que alguma vez serás aos olhos do teu melhor amigo. Levantas-te todos os dias decidida a criar um fosso entre ti e o mundo, para que possas finalmente acordar sem nada a perder. Os sonhos já não são sonhos, mas caprichos, porque cresceste com moderação e hoje tens o que nunca foi teu por direito. Criaste a ilusão que caminhas sobre nuvens, não há fronteiras para os sorrisos e que há mais bondade e amor na distância entre ti e os homens do que alguma vez haverá entre ti e a Medicina. Ainda assim, queres fazê-lo à tua maneira porque de outra maneira o mundo não é mundo e o mundo não vale a pena. Repetes, no desespero da auto-manipulação, que riste já demasiadas vezes para que o chorar do resto da tua vida seja um problema.
23/09/2011
Cartas de Coimbra XLVIII, o regresso
14/08/2011
10/08/2011
Cartas de Lisboa XII
27/07/2011
Cartas de Lille XXIV
Vi as pessoas menos prováveis chegarem à minha vida. Troquei todas as formas de Adeus com os homens que serão sempre, por definição, os homens da minha vida. A França explicou-me, em palavras caras, a ironia dos viajantes: como te deitas nos braços de alguém que não verás nunca mais. Fez-me sentar infinitas vezes à borda de tantas camas e à margem de tantos rios. Fez-me amar porque chovia e ser incompreensivelmente feliz porque fazia sol, contra todas as previsões. Dei-me conta do quanto adoro o cheiro das igrejas, o arrepio de entrar na penumbra e no frio dos lugares que aprendi a temer.
Acima de tudo, encontrei-me em bocadinhos dispersos. Em salas de pintura Impressionista, em corredores de aeroportos, em copos de vinho tinto. Sorri a todos os estranhos de mapa na mão e lembrei-me de nós dois. Sinto ainda o remorso de amar-te e não estar pronta para concretizar em ti, seja o que for.
O sino da Catedral treme-me nas mãos, no escorregar duma primeira e última cerveja. Eu sonhei com esta vida e sinto-a desvanecer-se ao mesmo tempo que a materializo em palavras. Só espero que um dia acredites que tudo o que se passou aqui foi muito maior que mim própria.
17/07/2011
Cartas de Lille XXIII
E no entanto, 11 meses se passaram, sob chuva constante, no passo lento de todos os meus regressos a casa, na implacável busca de um referencial para quem, não importa a que horas, pudesse voltar. Enterrei, uma por uma, todas as histórias. Reli pela última vez os primeiros emails, guardei para sempre todas as lembranças numa caixa de cartão, desfiz-me do que pudesse manter viva toda a espécie de rancor ou esperança.
Só não sei o que fazer contigo.
07/06/2011
Cartas de Lille XXII

26/05/2011
Cartas de Lille XXI
So I'm waiting for this test to end So these lighter days can soon begin I'll be alone but maybe more carefree Like a kite that floats so effortlessly I was afraid to be alone Now I'm scared thats how I'd like to be All these faces none the same How can there be so many personalities So many lifeless empty hands So many hearts in great demand And now my sorrow seems so far away Until I'm taken by these bolts of pain But I turn them off and tuck them away 'till these rainy days that make them stay And then I'll cry so hard to these sad songs And the words still ring, once here now gone And they echo through my head everyday And I dont think they'll ever go away Just like thinking of your childhood home But we cant go back we're on our own Oh, But i'm about to give this one more shot And find it in myself I'll find it in myself
11/05/2011
Cartas de Lille XX
E, feitas as contas, ambos sabemos quão desonesta sou em pedir-te um último abraço. Eu quero-te inteiro, num impulso nocturno e sincero, que fala da vertigem que é ainda pensar em ti e no turbilhão de imagens que criámos juntos. Porque eu sempre soube que aquela última madrugada me traria presa para o resto da vida. Ou talvez presa já eu estivesse e apenas não to pudesse dizer.
Seremos sempre o paradoxo dos problemas que não existem por lhe termos esgotado todas as soluções. Mas, dizias tu, ninguém se rala.
06/05/2011
Cartas de Lille XIX
Depois dos 20, o pai passou a dizer-me que não devia voltar nunca mais aos sítios onde fui feliz. E eu... eu entretinha-me a esmiuçar a vida, a conta-la pelos dedos das mãos, e percebia, enfim, que não devia voltar nunca mais aos homens que me fizeram feliz. E eu dizia: não, pai, deixa-me ir, deixa-me cuidar deste meu mundo cão, destes homens repetidos que me trocam o coração por um maço de tabaco, que atravessam o oceano esquecidos de mim, que me conquistam os sonhos por tuta e meia. E assim me fazia mulher, pensava. Assim me esquecia da minha pequenez e brincava com o fogo, tal bonecas: nome, idade, passado e destino. De repente, são de novo 5h da manhã e eu sou de novo eu, aterrada de medo, dobrada sobre falsas memórias que nunca foram nossas. Tão certo como uso os dias para dormir e as noites para chorar. Mas por favor, não digas a ninguém.
01/05/2011
Cartas de Lille XVIII
Só queria dizer que em mim há pouco mais que o sabor metálico das viagens e isso consola-me. Consola-me porque vejo nos outros uma multidão de partida, uma multidão que, como eu, estará sempre, sempre de partida.
A verdade é mesmo assim, sabes? Essa verdade que não admites – a verdade que ele não admite. Eu estarei sempre de partida. Feita em cacos, na penúria de uma memória que insiste em revê-lo, em acordes já sem brilho, em guitarras sem charme. Já não se trata de amar ao desbarato, sem travão. Trata-se de fugir. Trata-se de não conseguir ficar. De não conseguir olhar para ele, nem para ti, e achar que o glamour dos vinte anos me escorregou deliberadamente das mãos. Que fiz as escolhas de ocasião por mera estupidez. Porque não fiz. Fi-lo com a sensatez dos velhos, que olham para trás e sabem que a inconsequência e o exagero aconteceram no tempo devido.
E depois, em mim sobra apenas a gestão dos que vão e das marcas que deixam; dos que desapareceram um dia, no ar, sem morada ou rasto. Em mim sobraram os que não me dão consolo porque, de repente, Coimbra se tornou um labirinto sem graça, onde os vícios se repetem indefinidamente, e onde eu não tenho, nem nunca tive, um mero lugar.
Aqui, a solidão é uma ressaca de dois dias. Aí, a solidão acorda comigo todas as manhãs e não há maquilhagem que a esconda. Acordar novamente com o desconcerto de estar longe – e ao mesmo tempo, tão estupidamente perto... lamento, mas não importa quanto me pregues, tenho o coração em permanente fuga.
08/04/2011
07/04/2011
Cartas de Lille XVI

your little heart by ~mala-lesbia
Não sei que consequências virão deste desatino, mas neste momento levo comigo o peso e a tristeza de ter encerrado o que foram, talvez, os melhores dias da minha vida. Partir assim, num impulso quase virgem, fez-me ver o quão isto não passa de um sonho tolo, irrepetível, onde liberdade e desprendimento começam no cruzar das fronteiras. Foi mágico, sabes? Perder-me assim nos abraços dos amigos, na intimidade dos nossos melhores amigos, no encanto dos desconhecidos que me deram abrigo, nos olhos azuis dos homens que procuraram a minha boca. Bonn, Köln, Amsterdam. Sinto-me ainda trémula e gelada pela pressa da partida. Há 6 horas que parti e parece que passaram 5 minutos desde que o deixei no cais da estação.
O que ele não sabe é que tu ligaste ontem à noite, enquanto ele dormia e que, apesar de tudo, eu não percebi o que me querias dizer. A vida seguiu o seu curso e eu olho para trás apenas para não conseguir perceber como vim aqui parar. Sou uma mulher de ideias e reacções fáceis, mas desfruto apenas dos rituais das chávenas de café que antecedem tudo o resto.
No meu espírito, contudo, nada mais que a insatisfação e a amargura das coisas precárias. O “Adeus, até um dia” que faz da nossa vida um eterno livro de repetições felizes, que jamais nos contentam. Foi bom demais para ser verdade, e no fim, tarde demais, percebi que nunca passou de uma mentira.
26/03/2011
Cartas de Lille XV


E há os eles da minha vida. E exististe tu. E eu existo e não entendo os contornos disto. Consumida nas pequenas misérias a que chamei vitórias. Segura num mundo movediço com sabor a vinho branco. Lamento, mas isso de nada me serve, porque o amor bateu a porta e eu abri a porta errada. Os homens continuam a desapontar-me pelo reflexo que vejo de mim própria. A promessa intempestiva de que tudo tem um prazo e de que tudo trás mágoa. E o charme cego de tudo aquilo que trás horas contadas.
Hoje de manhã, acordei de corpo tombado à cabeceira da cama, de maquilhagem rasgada na palma das mãos. O orgulho tem razões que a própria razão desconhece. E um dia, inevitavelmente, vou ficar indiferente ao tudo que se passa, ao tudo que se rouba no pedaço de chão entre dois bares. Vamos dar por nós destilados de raiva e de paixão, encostados à porta de serviço, a ignorar o cubo de gelo que seguramos na boca.