20/12/2011

Cartas de Varsóvia

E depois de uma viagem que te levou até às tuas melhores pessoas, voltas com o benefício da dúvida que talvez o teu avião se arrependa e te traga de novo a Varsóvia. Entretanto tocaste finalmente o chão do aeroporto e podes ainda fingir que a tua vida nunca vai deixar de ser essa passadeira rolante sem fim à vista, a tua mochila imensa sobre as tuas costas, aquelas cadeiras de gente tombada que dorme sob tantas partidas e nenhum regresso.

Depois de uma viagem que te trouxe tanta esperança. Que te encheu ingenuamente de certezas. Que te mentiu e tu não reparaste. Depois de uma viagem que ensinou ao teu corpo que nenhum homem alguma vez te terá tão inteira como todos os teus amores de passagem. Depois de histórias assim, não há medo nem compromisso que te convença a ficar. Tudo em ti é insatisfação, tudo em ti é ansiedade. Dás-te às coisas a meio gás, queres ir embora, e queres estar sempre, sempre de partida. A vida que deixas para trás, a vida dos fortes e dos determinados, não te faz feliz. Já pouco interessa que não sejas um deles. Já pouco dói que te tiraram o chão demasiadas vezes. O chão já pouco te vale porque tu queres mesmo é ir embora. Num banco de 2ª classe de um comboio nocturno de um país sem língua, com os olhos brancos dos sem sono que partilham contigo a distância, ao som da radio que te falará eventualmente do teu país e da tua língua. E então Barco Negro estará outra vez na radio de um país sem língua e tu vais saber que vais para o sítio certo.

Sem comentários: