02/12/2011

Cartas de Coimbra L




Lembro-me bem. Demasiado bem. As histórias quebravam-se, as relações entravam em constantes adiamentos, a vida fugia-nos das mãos, eu surgia e ia embora, eles surgiam e ficavam, e hoje fazemos todos parte de gavetas fechadas onde ninguém consegue mexer.


Foi quase pornográfica, sabes? A pressa com que me esqueci. A pressa com que quis pôr todos estes pontos finais de uma só vez. Repetia em monólogo que a vida, a minha vida, era para se arrumar por passos. Um acerto de pontas entre cada inspiração. Por cada Foi um prazer, mesmo quando não o era. E no entanto, a velocidade das coisas não me deixava pensar. Era tudo barulho, gemidos, os recortes gastos das músicas de sempre, mãos que me puxavam, mãos que me perdiam, memórias dispersas e sem sentido, o sabor de um alcool que eu não bebera, de um cigarro que eu não fumara, de um beijo que eu não conhecia. Fomos estupidamente felizes.

E depois pegamos no que restou de nós, nas cicatrizes ainda quentes e voltamos ao ponto de partida. Temos as arestas limadas, o coração mais pequeno, as vontades de novo alinhadas com o que sempre fomos. Olhamos para trás e sentimo-nos meros compassos de espera. Era comigo que ele dormia quando ela não estava. Era com ele que eu deixava todas as conformações do mundo enquanto tudo o resto falhava. E sim, eramos estupidamente felizes. Inconsequentemente felizes.

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