01/10/2011

Cartas de Lisboa XIII


jour de pluie. by ~moumine

As coisas ficam estranhas quando no balanço do teu regresso a casa (?) o teu coração parou, tornaste-te uma jornalista nas horas vagas, os teus amigos viraram-te as costas por seres empática demais e as tuas redes sociais estão em francês. Estás outra vez de partida, tens francamente demasiados projectos que não partilhas com ninguém e há mais estrangeiros que te abraçam na rua do que as boas memórias que te ficaram de Portugal.

As coisas ficam estranhas quando, no balanço de um regresso ao passado, os problemas repetem-se, tu ficas doente e a vida parece feita de últimos fôlegos que não queres perder – porque parar é morrer e tudo o resto na tua vida há muito que não respira.

Sabes que as coisas se tornaram estranhas quando os homens da tua vida te usaram e que tu os usaste e que não és capaz de acreditar em coisa nenhuma porque o homem que tu querias é feito de horizontes fechados, gosta de meninas magrinhas e tontas, e tudo isto se tornou num lugar-comum, como quando ambos tinhamos 15 anos. E tu tens a certeza que és no mínimo um 8 na cama.

Sabes, enfim, que não há milagres. És mais bonita nas vidas temporárias dos outros, do que alguma vez serás aos olhos do teu melhor amigo. Levantas-te todos os dias decidida a criar um fosso entre ti e o mundo, para que possas finalmente acordar sem nada a perder. Os sonhos já não são sonhos, mas caprichos, porque cresceste com moderação e hoje tens o que nunca foi teu por direito. Criaste a ilusão que caminhas sobre nuvens, não há fronteiras para os sorrisos e que há mais bondade e amor na distância entre ti e os homens do que alguma vez haverá entre ti e a Medicina. Ainda assim, queres fazê-lo à tua maneira porque de outra maneira o mundo não é mundo e o mundo não vale a pena. Repetes, no desespero da auto-manipulação, que riste já demasiadas vezes para que o chorar do resto da tua vida seja um problema.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caríssima, foi ao acaso que descobri o seu blog e sinto-me imensamente grato ao recurso do seu servidor que nos permite o conhecimento de sites aleatoriamente.
Admiro a maneira como escolhe as palavras, suas ideias e seu ritmo interessante de escrita.
Provavelmente não tenho currículo para que meu agraciamento seja válido, mas parabéns. Tentarei ser fiel leitor dos seus textos a partir de agora.
Meus cordiais cumprimentos,

Mateus.