«E ele me conhece o suficiente para saber que eu poderia até receber um estranho, mas nunca abriria a porta para alguém que de fato quisesse entrar.» CHICO
01/12/2010
Cartas de Lille IX
30/11/2010
Cartas de Lille VIII
Eu tenho os meus segredos e planos secretos, Só abro para você mais ninguém.
Isto aqui é para ti e para mim. Não importa as portas que abrimos e as portas que fechamos e as decisões sem volta que tomamos. Não importa. Porque depois, no silêncio da noite, no regresso frio a casa, nas manhãs demoradas na minha cama... serás sempre o melhor de mim e estas serão sempre cartas de amor. Tenho saudades tuas.
19/11/2010
Cartas de Lille VII
06/11/2010
Cartas de Lille VI
30/10/2010
Cartas de Lille V
Aquela era a última cerveja. Lembro-me dele perguntar qual a parte do meu corpo que gostava mais. Eu disse: os meus ombros. Ele disse: as minhas mãos. Ele perguntou qual era o meu apelido. A conversa derivou para qualquer coisa que eu já esqueci. Alguém dividiu uma cerveja comigo. Alguém dividiu mais três cervejas comigo. Alguém me trouxe a casa. Sobraram sensações e cheiros do mesmo bar de sempre, frases inacabadas ou que perderam sentido no volume da música. Talvez hoje eu reformulasse os diálogos, mas eu já não sei ser sóbria. Depois de dois meses, eu já não sei nem quem sou nem o que quero. Todas as manhãs ressaco na cama as loucuras que me propuseram. Apanhar o primeiro comboio que sair daqui e ao mesmo tempo ficar. Não depender financeiramente de ninguém e poder ir para outro sítio e poder começar do zero outra vez. Fazer do medo adrenalina. Quero demasiado que a minha vida e o que faço com ela valham a pena. Não importa se resolvemos seguir para um plano B ou plano C. Estou bêbeda de ansiedade e sinto que me movo com uma multidão de gente à minha volta a empurrar-me em todos os sentidos. Há demasiados braços e demasiadas bocas para me enlaçar e me prender. Mas ainda assim, sou e serei sempre um templo guardado para ti.
Já sinto tremores. Não quero pensar no quão doente estou. Pergunto-me se quando a alucinação parar, vão doer mais. Não me sinto cair, mas há aquela sensação permanente de vertigem. Eu sei que é apenas uma ressaca. Estou a refazer-me aos poucos, sentada no chão da lavandaria. Quero voltar a Paris, ao Porto, àquela sala vermelha que cheirava a incenso. Quero voltar a Bruxelas. Quero a liberdade de espírito dos homens que conheci aqui. Estou viciada em pessoas. A amizade já não chega. Tento sugar todo o magnetismo que têm. Meu Deus. Acho que vou estragar tudo. Há solidão nisto tudo e, ainda assim, tu estás sempre comigo e eu estou sempre contigo. No meio da noite, paro e o teu rosto conforta-me. Serás sempre a minha pessoa, mesmo quando voltas a casa e eu sei que ambos queríamos estar noutro lugar. Um dia, vais embora e não voltas mais. Não te desejo menos. Também tu te embriagaste na minha ausência. A China profunda, os olhos azuis e os olhos negros das mulheres da tua vida. Entre nós, há um acordo tácito de não falarmos delas nem deles. Amamo-nos e por isso não podemos negar vida um ao outro. Somos um abrigo juntos mas estamos sempre a partir. Consigo lembrar ainda os teus olhos e as tuas mãos cheias de vontade, o calor e o cheiro, as manobras e os detalhes que só tu conheces sobre mim. Às vezes tudo isto te assusta. A cumplicidade demasiado conformada que temos. Ninguém acredita que te amo, nem tão pouco sei se tu acreditas. Eu sei que vou a uma velocidade perigosa e que nada disto te cativa. Mas nem por um momento te larguei a mão. Os meus lábios continuam os teus.
05/10/2010
Cartas de Lille IV
28/09/2010
Cartas de Lille III

24/09/2010
Cartas de Lille II
No tumulto da rua de todos os dias, somos muitos e todos pedimos consolo aos 3 euros de álcool que é quase sempre o nosso jantar. De repente alguém fala a nossa língua e de repente todos falamos a mesma língua e todas repetimos com frieza que não é amor o que nos falta, mas sexo, mas lascívia, mas qualquer coisa que não é amor. Estamos sentadas numa mesa redonda e há cigarros apagados, cervejas mortas, um inglês metálico e semi automático. Diria que estamos envergonhadas. Por termos a vida do avesso, contas pendentes, uma história de amor que em voz alta se tornou apenas num cliché. Sorrimos estupidamente quando alguém pergunta onde ficaram as noites de sexo furioso, as roupas rasgadas, as manhãs que não tinham horas, quando o nosso quarto era um sítio quente e com vida. Olhamos para o fundo do copo vazio e quase em simultâneo para o fundo da carteira vazia. Porra. Fechamos a loja por hoje. Sentimos raiva na bebedeira insatisfeita que não podemos comprar. Na felicidade que os burros dizem que não podemos comprar. Nem com um bilhete de regresso a casa. E aí reside todo o paradigma. Isto já não é sobre esta França que nos suga o dinheiro e a felicidade. Isto é tristeza que trazemos colada a pele, não importa onde e com quem dormimos. Isto é querer ser feliz, de uma maneira ou de outra, cada vez com menos detalhes.
O silêncio pesa-nos finalmente porque voltamos quase sempre sozinhas a casa. Estamos absolutamente geladas. Queremos chorar mas fingimos que ainda não chegou a nossa hora. Somos tesas, pensamos. Somos exactamente como queriamos ser aos 14 anos. Somos cansativamente apaixonadas, pesarosamente irracionais. Temos medo de estar sozinhas e usamos boinas ridiculas de lã. Um único par de ténis rotos a esboçar a ideia que temos de nós próprias. Já não temos 14 anos e já não queremos fingir que somos intelectuais. Temos apenas 20 anos e perdemos toda a coragem.
05/09/2010
Cartas de Lille I
Eu já cá estou. Sinto-te comigo a cada instante. Não importa quanto te hei-de odiar um dia, hoje agradeço por seres, por mim, mais que tu próprio. Não importa a cama onde (não) estivemos juntos, esta será sempre a nossa casa. Esta será sempre a minha casa. Esta serei sempre eu própria.
A velocidade dos dias é brutal. A informação imensa a fluir a todas as horas, de noite e de dia. A logísitica de ser uma estrangeira a tempo inteiro e para todos. O destruir barreiras que se re-erguem todos os dias. A impressão que apenas a cerveja nos abre portas, quando na verdade as fecha. O frio que só eu sinto. O medo invisível. O cansaço de todas as manhãs. A água quente a jorrar no corpo gelado pela impessoalidade dos corredores. As pessoas que quisemos que fizessem parte da história. A solidão que será sempre uma constante, não importa a latitude. Somos afinal livros demasiado brancos, espelhos sem reflexo, tempo perdido. Todos os dias acordo à tua espera. Um dia hei-de voltar e nunca mais ir embora.
25/08/2010
Cartas de Lisboa XII

15/08/2010
Cartas de Lisboa XI
31/07/2010
Cartas de Coimbra XLVII, a última
20/07/2010
Cartas de Coimbra XLVI
26/06/2010
Cartas de Coimbra XLV
Quando penso nisso, volto irremediavelmente àquela tarde de Verão, deitada aos pés da cama. Já lá vão talvez seis anos. Nessa tarde, escrevi que um dia tudo seria melhor. Eu seria melhor. Teria, como tantas vezes te disse, o mundo à cabeceira. Um perfeito vazio de expectativas.
A idade aconteceu e sou hoje como prometi ser aos 14 anos. Fui mais longe do que isso. Tenho o meu espaço, a minha voz, as minhas histórias. Não tenho casa. Tenho a melancolia pendular das viagens de comboio. Estou no melhor lugar do mundo quando se tem 20 anos. Sou sozinha. Amo-te exactamente como imaginei que te amaria um dia.
Contudo, a idade aconteceu e hoje sou ainda uma menina invisível. Tenho voz, mas não tenho palmas. Histórias mas não carisma. Sou crítica e, no fundo, uma permanente desasjustada. O problema serei certamente eu mesma. Ou não passaremos quase todos de más pessoas. Às vezes tenho a certeza que conseguem ver através de mim, como se eu não estivesse de facto ali. Fazem de mim pequenina e eu torno-me minúscula. Fiz demasiadas asneiras. Achei que o álcool mudaria tudo e eu seria finalmente uma mulher diferente. Mas nós nunca roubamos nada da própria vida. Nós roubamos da vida dos outros e eu roubei a esperança que não era minha. As frases feitas. As festas académicas. Os amigos. Nada disso é realmente meu. Pessoas como eu não têm vidas assim. Não em Lisboa, não em Coimbra, não em lugar nenhum, por mais longe que consigamos ir. E eu fui demasiado longe para descobrir isso.
23/05/2010
Cartas de Coimbra XLIV
11/05/2010
Cartas de Coimbra XLIII

Definitivamente uma cidade de segredos. Pela 3ª vez, abraçou-me à sua maneira e eu respondi-lhe ao meu jeito. Quem me dera que as memórias nos aquecessem tanto daqui para frente como a Queima nos aquece hoje. Porque a Queima das Fitas não se dá a entender aos mirones que vêem de fora ver o que não conseguem ver. A Queima das Fitas é dos apaixonados. Dos resistentes. Dos que bebem aos Amigos, aos segredos de Coimbra, às histórias que aconteceram dentro de nós próprios e que nos ensinaram, no fundo, o mais importante. De 2010 vou levar as escadarias das Igrejas, as capas negras sobre as pernas cansadas, as longas conversas que as madrugadas de espera perpetuaram. Vou levar o mais fantástico concerto à chuva e, por isso mesmo, uma alma lavada. Vou levar os momentos de confusão onde o coração pediu mais tempo. Um cortejo feito no braços dos amigos. Os post-its deixados na capa dos livros antes de nos afogarmos nas noites do Parque. As palavras que quase dissemos porque havia talvez amor em toda a cerveja que bebemos. E no final de nove noites, eu sei que nada terá mudado e que tudo o que vivemos durante a semana será enterrado com a normalidade de uma vida que continuamos a empurrar, alheia a tudo. Vamos olhar para a transparência dos outros e vamos sentir-nos agradecidos por Coimbra ter feito parte do caminho.
23/04/2010
Cartas de Coimbra XLII
09/03/2010
Cartas de Coimbra XLI
Estas cartas são tuas. Escrevi-as talvez desde sempre. O papel de rascunho, o balançar do comboio, o timbre único da voz do Doherty. Está tudo nestas cartas. A minha vida inteira, virada do avesso, rasurada como se as palavras francas não soubessem que são poesia.
São cartas de amor, mas principalmente cartas para te revelar o que existe diante e por detrás dos meus olhos. Sempre te disse que vejo demais. Mas nunca te disse que o que vejo normalmente são coisas irrepetíveis e por isso tudo nestas cartas são também segredos. Abrir mão e falar-te deles é para mim a mais difícil prova de confiança.
O que aprendi contigo nunca mais poderei repetir. Sabemos, simplesmente sabemos, que estes foram os nossos melhores anos. E deles ficarão os cheiros, os sabores, a pele arrepiada e fria, as viagens de ida e as viagens de volta. Ficará também o medo de cair, o medo de, todas as semanas e todos os dias, partir para longe de ti e de, com isso, partir para longe do meu último lugar seguro. Ir embora será sempre motivo de luta interior, um estado permanente de guerra comigo, contigo e com o mundo. Mas amar-te precisará talvez sempre disto, desta forma calada de dizer-te por sinais de fogo quais as batalhas que escolhi e quantas ganhei. Nunca, em momento algum, tentei magoar-te. Seria atacar a mais vibrante das convicções que trago comigo. E nestas cartas dou-te o reflexo de tudo o que tenho de mim própria, os limites e as razões de todas as angústias, de todos os receios, de todas as promessas, de todas as histórias que fizeram sentido, porque te amava, de olhos mais ou menos fechados.
04/03/2010
Cartas de Coimbra XL

Não trazemos escrito na testa o que fizemos ou gostaríamos de ter feito ontem à noite. Talvez os outros se surpreendessem com o que guardamos portas a dentro. De qualquer forma, o que não aceitam é que queiramos discutir isso na praça pública. Curiosamente é exactamente isso que tenho feito. Por descuido, claro está, porque eu achava que falava a gente amiga. Depois ficou a pairar o desconforto. E dei por mim culpada de três goles de vinho que me fizeram falar o que preferia ter falado sóbria. Dei por mim culpada de algo que encarava com tranquilidade até me dizerem, com o silêncio, que há tabus aos 20 anos totalmente intrasponíveis.
17/02/2010
Cartas de Lisboa X

22/01/2010
Cartas de Coimbra XXXIX

02h00. Viajo de lugar em lugar. A internet é um mundo demasiado extenso onde cabem todas os vícios que eu poderia ter. É fatal. Já vi todas as fotos que tirámos juntos, já li o blog inteiro, já ouvi todas as músicas que me poderiam magoar, já remoí todas as memórias más. Estou entre a parede e a inércia. Bloqueada no meu próprio cemitério, onde se encaixotaram os fantasmas, as perseguições, os medos.
03h00. A certa altura, nesta noite que aparentemente nunca vai acabar, acabei por adormecer. De olhos inchados, boca seca, cabeça dormente. Só quero não acordar nunca mais. Não sei o que se passa. Os meus sonhos já não são corridas contra o tempo, mas causas perdidas. Mas consequências daquelas noites impetuosas em que tudo se podia dizer e de repente eramos reféns dos nossos instantes de tristeza.
08h30. Acordei e adormeci novamente. Seria fácil dar um empurrão à própria vida, dizem. Bastaria talvez ter deixado o despertador tocar até ser forçada a seguir em frente. Quem me dera perceber onde tudo isto me leva e parar a tempo. Quem me dera perceber de onde veio isto tudo. Quero continuar a dormir.
10/01/2010
Cartas de Coimbra XXXVIII
Na última noite do ano, não contei as doze badaladas, bebi o meu e o teu champanhe, chorei e disse o que não sentia. Tive a certeza que ires embora será, um dia, a coisa mais anti-natural que me poderão fazer. Mas acabarei por me habituar à ideia.
À meia noite estavas lá tu, e a chuva, e o barulho, e o frio. Estavam as coisas irrelevantes, a cidade e a nossa própria estupidez. Demos por nós a tropeçar nos lugares onde nunca quisemos voltar. A desafiar o tempo, a fragilidade dos nossos momentos, as promessas que não podemos nem devemos cumprir. O que eu não sei, dificilmente me magoará e por isso fazemos de conta que a eternidade nos cabe nas mãos cada vez que trocamos novamente um primeiro beijo. Já não sou capaz de mentir, nem de tornar as coisas mais fáceis. Tocar-te já não me queima apenas por fora. Quero a parte de ti que não tens para dar. A tua fé, a tua tranquilidade. No fundo, não é que isso tenha importância, porque não tem. Um dia deixo-te e deixo-te exactamente porque te amo. Nas entre-linhas, é isso que me pedes e eu escuto o que tu dizes, mesmo que não pareça. Eu só queria um lugar onde não houvessem batalhas, nem abismos, nem tempestades. E gostava que esse lugar fosses tu. Mas acabarei por me habituar à ideia.