02/06/2007

6.ª Edição do Canto de Contos

Há que perceber. Gosto dele e o Porquê disso tudo não se esgota no facto de ser meu pai. Há que ter em conta a sua forma de ter Sido e de agora ser a sombra do que foi. Talvez o individuo mais notável de sempre. Sem dúvida… o Homem mais capaz, com a arrogância dos poetas cultos, as ideias dos políticos moderados, o sentido de humor de um menino de aldeia que hoje é o mais letrado dos homens, o melhor dos profissionais, o meu pai.
Ele já leu a biblioteca inteira, e pressupondo que isso até é verdade, o que ele escolheu ler foram os clássicos, os Émile Zolas e os Jules Vernes, os Torgas e os Tolstoi. Ele deu mil e uma voltas ao mundo em oitenta dias, naufragando na pessoa tão imediata que é ao duvidar dos génios e dos inovadores. Ele cursou e mestrou, falou-me de filosofia e de física, ficou em silêncio quando devia ter falado, percebeu tudo o que fiz e escondi a vida toda. Porque ele sabe, eu sou igual a ele...
E além de tudo isso, ri de piadas sem graça, vive do e para o desporto que a televisão e os jornais transmitem, não perde um jogo das ligas inglesa, espanhola ou portuguesa, é burguês, bebe cerveja e fala comigo sobre Pessoa, religião e cinema. É autoritarista e desarrumado. Tem o melhor coração do mundo: dá, acha que necessariamente tem de dar e fá-lo com um desprezo notável pelos motivos com que o faz. Fá-lo com a lógica matemática como só os homens mais geniais do mundo conseguem. Racionalizando a bondade. Achando-a tão óbvia e fácil que nos mete confusão como podem as coisas ser diferentes noutros lugares.
A vida com ele é difícil. E porém, sem ele, seria muito mais. Sei que, da idade de onde falo hoje, nada seria possível sem o seu apoio. E é a mais absurda das verdades quando digo que foi ele que me deu o mais fantástico dos votos de confiança. Ele é a minha Pessoa de eleição. Diga lá eu o que disser… :)
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Este post surge no contexto de um desafio literário, cujo tema é uma Pessoa à escolha de cada blogger. Os desafiados foram:
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18 comentários:

Anónimo disse...

Os nossos pais realmente são pessoas fantásticas a quem devemos muito.
Encontrei algumas semelhanças entre o meu e o teu. :)
Um conto diferente , mas mais sentido que muitos outros.
Beijinho Bea.

Anónimo disse...

Que belo... Queria poder ter alguém assim para ter centrado meu caminho.
Me parece e tenho certeza que é um grande homem (=

Gostei muito.

:*


Ps: Desculpe a falha :(

Abssinto disse...

E eu espero vir a ter muito do teu pai, um dia.

beijo

tb disse...

Dá gosto ler e saber que há alguém assim marcante na nossa vida. :)
Beijo

Parrot disse...

Beatriz,

Antes de mais agradecer pela coragem e lançares mais um conto...
Depois dizer que gostei do teu conto, e ainda mais da homenagem a essa pessoas que seguramente tem extrema importância na tua vida.
:)

beijo

rafaela disse...

Lindo, Beatriz... lindo...
E não só pelo facto de teres escrito este texto com as palavras que sabes, mas pelo facto de ele ser sobre o teu pai. E tenho a certeza que vale muito, muito mesmo.
O meu pai não é nada assim. E eu também sou como ele em muitas coisas. Noutras sou diferente: é a lei da selecção natural! Mas também ninguém me tira os mimos que me deu, nem as lágrimas que já chorei por ele, sem ele ao meu lado... Nunca me falou de Pessoa. Não sei sequer se ele sabe quem é Pessoa, e tenho pena dele por isso, por isso e por não descansar os braços, nem o resto.
São vidas...

beijinhos Beatriz...
lindo =)

Teresa Durães disse...

os pais, quando compreendidos nos seus defeitos e virtudes, podem ser pessoas fantásticas!

gostei!

boa tarde

Filipa disse...

Vejo-te de peito elevado de amor e admiração, tal pomba preparando-se para voar.

Muito bonito, excelente discurso,uma dedicação que nos faz inveja;)

beijinhos e abraço

Maite disse...

Cara Beatriz

Uma grande homenagem a alguém que, quer para o bem quer para o mal, (no seu caso para o bem e refiro isso devido à excelência da sua escrita que acredito começou pela mão dele, para além das outras qualidades que menciona) influencia cada um de nós da forma mais inefável que se conhece. E quando uma filha tece tais elogios a um pai, ele só pode ser um príncipe na verdadeira acepção da palavra.
Gosto da sua escrita subtil e delicada. Tenho lido outros posts seus que vêm na mesma linha.

Ontem passei por cá por volta das dez e ainda não havia conto. Deve ter-lhe acontecido o mesmo que a mim. Não conseguia postar o conto. Uma complicação e no fim já era um cansaço extremo.

Um bom domingo para si :)

Maite disse...

Reparei agora que há mais membros do canto de contos do que aqueles que eu mencionei no meu post.
Já reparo essa minha gaffe :)

Andreia disse...

Os pais são sempre importantes. Letrados ou não. Mais presentes ou mais ausentes. O meu também me marcou. Também me marca. Infelizmente não consigo escrever sobre ele..

Beijinho! :)

Klatuu o embuçado disse...

Escorreito e bem escrito.
Dark kiss.

A. Pinto Correia disse...

Diria que és genial, Bea. Agradeço-te o desafio que considero uma honra vido de ti.
Beijinhos

CNS disse...

Belo texto, cheio de marcas de afecto. Ler-te é um prazer.

Supremus Dies disse...

Como era suposto de se esperar - Muito bom.

Parabéns

Mateso disse...

Belos, imaculados, cultos,presentes, ausentes,simples, vividos ou meros pais, eles são, o ponto de partida de nós mesmos.
Lindas palavras e bela homenagem a um pai,num texto pródigo em ternura e amor.
Parabéns.

José Pires F. disse...

Entrando de rastos, curvado, por via do tamanho da caixa de desculpas que carrego, não pude deixar de ler o teu conto em primeiro lugar, os outros, serão lidos também, com o vagar que agora caracteriza as minhas viagens na blogosfera.

Partindo do principio que este Pai (com maiúscula, claro) não é obra de ficção, fico para aqui de rastos por não saber o que é ter uma pessoa assim para me acompanhar. És simplesmente, uma grandessissima felizarda.

Como era de esperar porque a isso me habituaste, bem escrito.

Enorme abraço e as minhas desculpas por não ter sido capaz de apresentar um conto. Lá tentar, tentei, mas tudo o que saiu era mau demais para integrar esta edição.

Inês disse...

e como é bom agradecer assim a existência de alguém, em nós...*