06/03/2007


I want to be a good woman. And I want for you to be a good man.

Constrangedor dizer-te isto. Como se fosse eminente que a vida nos há-de trocar as voltas para não sabermos de repente quem somos nem para onde vamos. Falo por mim. Quem és e por onde vais… sempre o soubeste. À tua maneira. Nessa tua estranha maneira de existires sem urgência, sempre na retaguarda e simultaneamente num pelotão da frente, vigiando o que acontecia à tua volta, seguindo por caminhos traiçoeiros que foram sempre seguros para ti. Mal de mim, se um dia quis seguir-te até ao fim do mundo. Porque em simbolismo encontrei realmente esse fim do mundo, estacionado mesmo à minha frente, enquanto tu enganavas outras almas que se entregavam a ti como eu me tinha entregue. E por isso, tenho vontade de te chamar mentiroso, e o resto. Todos os dias. Em todas as horas em que o vazio ocupa mais espaço que o que se passa à minha volta.
And I want to be a good woman. Talvez por achar que tenho ainda de te provar alguma coisa. Talvez por achar que tenho ainda de provar a mim própria que desta vez te vais desvanecer nos meus dias sem que eu tenha de lutar contra ti por muito tempo. Olho para mim e dou comigo no baloiço do jardim em que nos encontrávamos. Custa-me estar aqui. Demasiado. Assim como atravessar as ruas e reconhecer, no anoitecer, a tua sombra enorme de braços abertos à minha espera. Assim como o olhar penetrante de uma criança de cinco anos que me fixa e que depois me deslarga, deixando-me continuar em frente para que tudo volte ao lugar. Assim como o cheiro que, de repente, um desconhecido trás consigo e me lembra o teu. Assim como o calor remanescente dos cobertores que evocam o calor, agora em falta, do teu corpo enorme. Assim como a tua voz ainda excesso na minha vida, como as tuas mãos a tropeçarem nas minhas quando procuramos o mesmo ombro, como os mesmos olhos cansados e fechados, as mesmas partilhas de tempo e de espaço, como o mesmo contemplar de uma só lua cheia. Assim como a minha vida a ser uma vida igual às outras mas sem direito a ti e, ainda assim, cheia de ti, a transbordar de ti na luz da janela e nas músicas tristes, no medo de um futuro que se olha e não se encontra em lado nenhum. Em nada, nem em mim.


I want to be a good woman.

6 comentários:

Supremus Dies disse...

Se a vida nos troca as voltas ou se nós nos trocamos involuntariamente... eis algo que sinceramente pouco importa e não é por acaso que escrevi "involuntariamente", partindo do princípio de que muita coisa é imperceptível, cuja consciência seja atraiçoada ou maninpulada.
You want to be a good woman... "I Want I Can" (assim foi um dos slogans da ADIDAS) e se bem me lembro, a mensagem evidenciou-se potente e convencional.
Fico satisfeito com a consciência que revelas, sabendo que a provar alguma coisa, só a ti o deves.
Tens palavras escritas que não existem... e eu respeito-as, independentemente de quem sejas. Eu também o exercito e coloco-me em boa posição para te entender no apenas...
A ausência é um reflexo que te acompanhará até ao fim, não é segredo para ninguém. A necessidade tenderá em se revelar através de várias faces e é normal nas nonssas, fazer-se notar a da vergonha... bom... isto já vai longo por isso, acredita que a tua existência é uma tremenda aventura.

Ah... embora respeite, odeio de forma muito elegante quaisquer noções ou regras pre-estabelecidas, talvez porque prefira dedicar-me ao génesis... de outras menos universais.

;)

Abssinto disse...

Interessa-me sobretudo tentar perceber como é que alguém tão novo escreve já textos com esta maturidade... soberbo (as relações, as relações....)

bj

isabel mendes ferreira disse...

para começar subscrevo o Abssinto!!!!!!!!!!


e depois;


já nada me surpreende aqui. ou seja....é sempre tão bem escrito que a eventual surpresa se transforma em confirmação.

Beatriz....a menina é enorme!!!!!!!!!


abraço.


sempre rendido.


bom dia. B de muito muito Bom.

Anónimo disse...

Subscrevo o que os dois anteriores comentaristas disseram. És efectivamente soberba no entendimento do que te rodeia. E depois, vem ainda este toque de quase-génio que imprimes à tua escrita.
Beijos B.

Bento Abreu disse...

Simples e belo :)
Parabéns :D

Beijo

Klatuu o embuçado disse...

Ser bom/boa, no meu entender, nunca poderá ser independente das ideologias que se perfilha ou simpatiza... Por exemplo: não há nazis bons. Só um exemplo...

Dark kiss.