05/12/2006

Um mundo que se compromete, e se revela, e se condensa num ponto único do tempo, quando tudo se repete, quando a vida volta ao início, e ele regressa, tal a imagem, tal as formas, segundo a cor, conforme o brilho, através de uma voz que perdura e se encaixa nas minhas mãos e no meu medo, na pele de uma vontade demasiado simples, demasiado ténue.
E eis assim um mundo que se compromete, e se revela. Mas tu não foste feito para reparar que algo mudou. E que a vida persiste ainda aos teus pés, como sempre foi, mas eu não.
E hoje ele regressa. E eu deixo. Volta tal uma lembrança volátil que me diz todos os dias que não consigo ser livre de ti, e me faz tentar. Todos os dias outra vez. E outra vez. E outra vez. E hoje ele regressou. E tanta coisa mudou e tu não sabes. A vontade natural de me esquecer de quem sou e de me apropriar do céu com a alma. De me entregar à voz que vem de dentro mas que não é minha. Nem tua. De contar as estrelas do céu e ter tempo para as recontar quantas vezes quiser.
E hoje ele regressou. E regressou com uma lição de entendimento mútuo que tive de aprender para poder continuar. Regressou com nada numa mão e com tudo o que poderia pedir na outra. E hoje ele regressa e eu quero acreditar que o mundo é redondo, que as lendas existem e que os sonhos nos modelam na decisão do que somos a cada manhã. E não importará mais o número de estrelas que só tu vês. Nem o espaço imenso que só tu entendes. Importará apenas o Tempo. O que te sobrar entre os dias para reparares que existe um lugar vazio no paralelo da tua vida, um cantinho escondido prometendo nunca mais ter de contar as tuas estrelas, segundo o teu espaço, segundo o teu tempo.
E hoje eu regresso. Na mansidão de tantas promessas que a espuma das ondas apagou na areia de tantos Verões… Para um porto de abrigo, onde um futuro maior faz cada vez menos sentido. E ao longe avisto o mar, para onde fico, hoje e sempre, suspensa a olhar.

1 comentário:

maria. disse...

posso eu regressar para às 3:45 de sabado a noite, dentro daquele carro, submersa num silêncio tão denso que nem vazia me sentia. ali e ficar presa exatamente ali, para sempre? diz que posso e depois me dá a poção, por favor... por favor...

regressos... ai ai regressos... sempre cruéis eu diria. vêm quando não deveriam, não aparecem quando mais esperamos. eita bixo cruel.