16/11/2006

"Fog in the City"



Às vezes pareces ser suficiente. E condensar assim o destino de aguarela que pareci escolher. Vivo à sombra do nevoeiro, dirias tu, com os olhos encostados ao vidro embaciado dos táxis. E de repente, consigo encontrar-te num qualquer semáforo fechado, tal uma promessa de chuva em que os meus sonhos estagnaram. Como se isso fosse possível, dirias também. E roubar-me-ias aos poucos a razão de ser; o desassossego; a voz de uma escrita que não consegue ser sequer raiva, sequer medo. Uma voz palpitante que não chega a tanto, que emudeceu com um outro qualquer passado, com outro qualquer destino. E eu escolhi-te logo a ti, a ti que acreditas na transmutação dos universos paralelos, que não consentes em planos feitos de papel para uma existência, sempre, sempre em atraso. Logo a ti e, talvez quem sabe?, também àquele instante final antes dos semáforos abrirem, antes do recomeço lento da vida embrulhada em desordem e ideais de progresso. Mesmo antes do meu táxi chegar uma vez mais ao destino. E de o vento recomeçar uma nova e tristonha contagem sobre o direito a se sentir escutado.
E eu… eu escolhi-te logo a ti. E dizem que não me compete saber porquê.

3 comentários:

José Pires F. disse...

Que saudades tinha de te ler, de percorrer as linhas que fluem como se nunca tivesses feito outra coisa na vida.
Excelente, como sempre.

A minha vénia e um enorme abraço.

Anónimo disse...

Podes escrever sussurros e ainda assim teres toda a força nas palavras. Basta acreditares. E sentires. Aí deixas de querer saber os porquês e deixas-te ir... quando o semáforo finalmente mudar de cor.

Beijinho grande*

Tiago disse...

Se calhar é mesmo suposto não sabermos o porquê!!
Olha parei aqui mais ou menos de para-quedas mas adorei o que li.
O dia de inverno,no taxi embaciado e exteriormente molhado em que se distinguiam as luzes dos outros veículos la fora. O vento, a chuva o abrir dos semaforos :)

Gostei mesmo muito!!~

Beijinho