06/11/2006

6 de Novembro, 2006


«Apesar de ser um ateu convicto, é arrebatado de surpresa por momentos de extraordinária exaltação. Fora de nós não existe nada a não ser estados de espírito, pensa ele; um desejo de consolo, de conforto, de qualquer coisa melhor do que esses débeis pigmeus, do que esses fracos, esses feios e cobardes seres humanos. Mas se conseguimos conceber tais figuras, então é porque elas existem, de certo modo, pensa ele; e avançando pelo trilho, como os olhos postos no céu e nas ramagens, logo lhes atribui uma forma feminina; observa o decoro e majestade que assumem, e como distribuem, agitadas pela brisa, num sombrio mover das folhas (…).
São essas as visões que ao viajante solitário oferecem grandes cornucópias de frutos, ou que lhes murmuram canções, como sereias cavalgando as verdes ondas (…)
Tais são as visões que flutuam, incessantes, ladeando as coisas, interpondo o seu rosto entre nós e o real; visões que amiúde dominam o viajante solitário, fazendo-o perder o sentido da terra, o desejo de voltar, e concedendo-lhe em troca uma paz absoluta; como se (pensa ele […]) toda aquela febre de viver fosse a própria simplicidade (…)»
Mrs. Dolloway, Verginia Woolf

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem-vinda! :)

Beijinho grande grande*