06/06/2013

Cartas de Coimbra LX

Um dia o vazio será tão grande que vou ser capaz de escrever outra vez. Um dia todas as construções caiem, e um dia todas as construções nascem de novo. Terra vencida será terra queimada. Entendo enfim que tudo não passa de um puzzle sem encaixes. Foram muitos começos, mas nenhum que matasse a raíz do passado, o dia 0 de todas as mágoas, o retrocesso sistemático a uma Coimbra, a uma Lisboa, todas as fintas que fizemos a nós próprios. Foram demasiadas partidas. Demasiadas. Foi a expectativa de nos contornarmos, de nos esquecermos. Foi a traição de todos os regressos; um coração que paralisamos e que voltamos sempre para salvar.
Salvar o que já não tinha solução. Nunca teve. Esperámos anos para entender isso. Lutamos ainda contra isso mesmo. Fomos estúpidos, durante demasiado tempo. Vimos crianças sem opções e quisemos fingir o nosso problema mesmo assim. Temos nas mãos um mundo que não é nosso e acima de tudo, temos medo.

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