11/05/2011

Cartas de Lille XX

Amar-te terá sempre o desfecho sensato de quem já sentiu isto antes. Entregar-me de novo ao sono e rever uma e outra vez aquela mesma porta de entrada, aqueles mesmos passos de dança que nos levariam impossivelmente ao mesmo lugar. Quero deixar-te seguir a tua vida, mas tenho-te caprichosamente debaixo da pele. Não me adianta mais fugir, fingir a postura ou a indiferença. Lembro-me bem demais do teu cheiro e isso basta.
E, feitas as contas, ambos sabemos quão desonesta sou em pedir-te um último abraço. Eu quero-te inteiro, num impulso nocturno e sincero, que fala da vertigem que é ainda pensar em ti e no turbilhão de imagens que criámos juntos. Porque eu sempre soube que aquela última madrugada me traria presa para o resto da vida. Ou talvez presa já eu estivesse e apenas não to pudesse dizer.
Seremos sempre o paradoxo dos problemas que não existem por lhe termos esgotado todas as soluções. Mas, dizias tu, ninguém se rala.

1 comentário:

Misantrofiado disse...

...eu prefiro pensar que já não há problemas para tantas soluções que julgamos ter nas algibeiras.