19/11/2010

Cartas de Lille VII

Na última madrugada, deitei-me num mundo de realidades invertidas e hoje é já tarde para compensar o tempo e a energia perdida a tentar consertar o que não tem conserto. Fomos feitos um para o outro e de repente Paris era para mim a cidade perfeita para me apaixonar por um estranho e materializar ali, outra vez, todas as fantasias de uma pessoa que já não sou, faz tanto tempo.
Ele voltou para mim, sabes? Voltou para me dizer que tu me levaste, que tu te arriscaste na sorte que ele não quis, que tu me fazes feliz na maioria dos dias. Ele voltou com um bouquet de rosas murchas a repetir-me ao ouvido tudo o que não fomos porque eu te quis a ti. Em mim alguma coisa nasceu, nas lembranças que eu já não tinha, nas memórias que inventámos.
Agora estou sozinha e rasgo as ruas submersas de folhas de olhar vazio. A paisagem, não importa por onde vou, gela-nos brutalmente por dentro. Beleza de morte. Foi assim que me perdi em Paris e te procurei em todos os homens a quem cedi. Nesses entretantos, ele não veio e eu esperei até o frio me meter novamente no último comboio da noite. Tudo agora é uma indefinição de rostos, sabores e lugares. Nada se adequa. E depois ele pergunta-me o que quero eu afinal e na minha boca há ainda um misto de tristeza e adrenalina. Cerveja seria a resposta, como uma pontada de ironia que nenhum deles compreenderia. Eu quero-te a ti, como sempre quis, mas eu já não sou eu e eu já não sei quem sou. Eu já não sei quem tu és.

3 comentários:

Um brasileiro disse...

oi moça. tudo blz? estive por aqui. cuidado. nunca esqueças quem vc é. é perigoso. mas está legal aqui. abraços.

KGT disse...

Beatriz, as vezes, por mais que dôa muito, temos que colocar uma pedra bem grande em cima de assuntos, mesmo que inacabados. Só assim para nos libertarmos e podermos nos encontrar novamente, abrir caminho para novos horizontes, rostos, encontros... Força, busque ela quando pensares em passar por cima deste passado, ela está aí dentro de ti.. Abraço!!!

Misantrofiado disse...

...e perder-nos-emos quanto mais insistirmos em querer saber.








Mas afinal... o que raio saberei eu?