15/05/2009

Cartas de Coimbra XXVII

by oprisco


Tenho saudades, digo-te em surdina. Olho-te nos olhos e espero que me respondas a um espaço inteiro de completo vazio. Trago-te comigo pendurado ao peito, lembro-me de ti uma vez ao dia e depois esqueço-te na persistência deste quelque chose que me falta. Na dureza das escolhas, fecho olhos e entro de rompante na vida dos outros, desviando o sentido às palavras para que nunca me levem de novo a ti. Tenho na boca a persistência de um sabor amargo, o ardor de um café demasiado quente, as feridas de uma língua trincada para que o mundo não doesse tanto assim. Embrulhada no último frio da estação, algo vai mal no reino desta minha glória de falar demais. As mágoas de sempre aprimoradas sem o direito de se ser uma vítima a valer. As minhas recordações lixadas nos cantos para se poderem encaixar nas tuas. As paixões que nunca nos saiem do peito, que se entalam na voz e que minguam até não serem importantes. Falta-nos ritmo, amor. Às vezes estamos simplesmente à espera que alguma coisa aconteça, que alguma coisa nos afaste, que alguma coisa decida por nós o que fazer a seguir. Às vezes estamos simplesmente a adiar o amor. A adiar as conclusões, a fingir que as coisas más, nós nunca as dissemos, nós nuncas as sentimos.

1 comentário:

V. disse...

só para que saibas que continuo a ler-te. sempre. e nós sentimos tudo. mesmo quando não dizemos. ainda mais quando não o dizemos.

beijo grande*