04/07/2007

(foto de Katarina Sokolova)

A verdade é que, de quando a quando, lembro-me que um dia me apaixonei por um completo imbecil... É raro, nós humanos, andarmos por aí distraídos, sem o rancor de um gesto e de duas opções mal estudadas – um beijo, o começo e o fim de uma relação. Agora parece que nada resta desses dias que já lá vão e que, mentindo, dizemos não sentir falta. Pergunto-me se era suposto substitui-los. Eu cá não acredito em pessoas insubstituíveis. Ainda que eu persiga desesperadamente esse estatuto no mundo de todos os que me rodeiam. Paranóia minha, obviamente... Há coisas difíceis de entender. E outras tantas de dizer. E que sendo assim, nunca se dizem. São feitas de uma sinceridade que ninguém quer ver partilhada. E, por isso mesmo, nós, peregrinos de uma forma de amor demasiado venal para se materializar, continuamos inertes face a um desconcerto total que a vida provoca em nós. Falta-nos poesia. Faltam-nos coragem, frieza e intolerância. Falta-nos qualquer coisa que, de alguma forma, nunca nos dê tréguas e que jamais nos permita desistir. Uma estrada cheia de curvas apertadas que percorremos com a destreza de quem é, simplesmente, capaz de tudo. Haja perfeição na humanidade em que persistimos sempre que erramos e sempre que fazemos juras de amor no peito errado.

9 comentários:

Abssinto disse...

Herar, erar, errare, ERRAR.

bj

maria. disse...

sinto falta dos imbecis que deixei, dos que mandei embora e dos que não quiseram mais me ver. sinto saudade de saber como é o amor, o frio na barriga um desejo irreconhecivel de algo que a gente nem sabe. o tempo passa, a gente cresce, ao olhar no espelho assusto-me, estou cada vez mais indiferente.

K disse...

Viver
O que é viver? Viver?... é repelir constantemente para longe de nós aquilo que se deseja morrer.

Viver?... é ser cruel, é ser impiedoso para tudo aquilo que envelhece e enfraquece em nós, e mesmo alhures. Viver... é portanto não ter piedade dos moribundos, dos velhos e dos miseráveis. É assassinar sem descanso... (Nietzsche)

O seu texto tem refinamento de sentir, mas a foto, Ah a foto! Estah me tirando toda concentração do texto! Tomei a liberdade de roubá-la!
Bjos

V. disse...

:) Já te disse o que achava do texto...

És grande! :)

Beijinho*

Filipe disse...

É...
Pena não se poder recomeçar de novo. Às vezes vemos as coisas ir por caminhos que não desejamos e não fazemos nada para impedir, aí já não somos nós, mas sim a relação...

Rebirth disse...

Concordo com a tua descrição de uma sinceridade que ninguém quer ver partilhada; e uma coisa difícil de perceber é o porquê disso mesmo.
Há coisas que acabam por nunca se dizer, e também as há que são ditas quando não deviam; custa admitir, mas acho que todos reincidimos nesses erros.

Excelente texto, sem dúvida...

Bruna Pereira Ferreira disse...

Ai esses dias loucos...
Loucos... Dias.
Loucos... Nós.

:)

Ana Sofia Cavadas disse...

Olá!

Estou de volta aqui a este cantinho. E houve uma frase neste texto, uma frase pequenina, de apenas duas palavras que me fez pensar, "falta-nos poesia". Sim, acho que nos falta poesia. Uma poesia livre, sem métrica, rima ou rigor. Uma poesia onde os pontos e as vírgulas não estorvem o sabor doce das palavras.

Um beijo,

Sofia.

eyeshut disse...

chega a ser impressionante como tantos biliões de corações diferentes batem, no mundo, pelo mesmo...
talvez sejamos todos tão parecidos, embora tão distantes. somos, assim, um mistério... que sabe tão bem ser lido em palavras assim...*