23/02/2007

by Tina Spratt


You don’t have to love me all the time. – É o que eu lhe digo em monólogos escondidos que tenho comigo, mesmo antes de me deitar e dormir. – Não tens de me amar com devoção, não tens de ser sincero, nem perfeito, nem sequer feito à minha medida. Espero de ti apenas a exclusividade momentânea dos amores individuais, os quais eu não sinto. Espero de ti um fingimento piedoso que me convença senhora das tuas múltiplas pessoalidades e motor dessas tuas tantas vontades. Não espero prender-te, ser mais do que o que me compete ser. Mas se ao menos pudesse ter-te inteiro na minha turva ilusão de um anoitecer que vivo ainda de mão dada contigo! Isso seria o ideal. E mais que o ideal, a metade de uma realidade conjugando-se com uma outra metade feita de sonhos e de histórias de embalar, feita de lugares sem nome e de momentos sem pressa.
You don’t have to love me all the time. Nem sequer preciso que mo digas, nem tão pouco que o jures, nem que faças coisa alguma senão fingir. E fazer-me acreditar. Não preciso que seja verdade, basta que eu ache que sim. Basta que eu seja um ledo engano de alma a vaguear nas instâncias de um fruto muito mais que proibido, roubando luz à luz, frio ao frio, motivos à própria argumentação que dá razão de ser a tudo o que existe e ao que está para lá do nosso entendimento também. Basta que abras mão de todos os demais caprichos de homem que possas ter e sejas único para mim. Tal como a primeira vez das coisas que se demoram em nós e ganham raízes. Tal como as promessas de fogo e de sangue que perdem o sentido da jura com o virar da idade mas que serão sempre promessas, feitas no calor dos afectos. Tal como o mundo a mudar todos os dias, a fazer-se a cada manhã maior que tudo e, no entanto, a caber-nos nas mãos tão vazias de tanto e ansiosas por tanto mais. Por tanto, tanto mais! Ansiosas por demasiado. Como se tivéssemos ainda a vida inteira pela frente…

6 comentários:

Abssinto disse...

Doce Beatriz, bebi-te esse texto como água fresca e cristalina. Diz-me muito, tanto que por sinal até podia ter sido eu a escrevê-lo...

beijo

Anónimo disse...

que boa surpresa, beatriz. obrigada pela tua visita. um beijinho.

Filipa disse...

Lindíssimo cara prima."Tal como as promessas de fogo e de sangue que perdem o sentido da jura com o virar da idade mas que serão sempre promessas, feitas no calor dos afectos. "
Ao ler esta passagem, sinto um perfume de acácias, vejo uma janela aberta de par em par, e muitas pétalas a tremer, tal como o que sinto de baixo da camisola que tenho vestida, cada vez que me lembro dessas maravilhosas promessas, tão distantes e tão presentes. Aí está o poder dos sonhos. Há certas promessas que materializadas transformam-se em pesadelo. A promessa que fica apenas na memória, como um coração riscado numa árvore, é aquela que realmente conta e a que por ser inconcretizável, será para sempre uma promessa, um sonho, um amor.

Adorei o teu comentário. vou-te contar um segredo...da última vez que estive em Lisboa fui acordada pela tua lindíssima luz. O tacto e a cor são também fundamentais.
Ah, e o Porto não é uma dessas "promessas imaterias", o Porto está aqui de portas abertas sempre que quiseres vir:)

maria. disse...

quando cansei-me da falsidade e abri mão de tudo pela preferencia do vazio ao falso... acho que encontrei o que pode ser um pouco sincero. custou-me o peso dos dias, a lentidão dos seculos, a paciencia dos deuses e ainda vem, gota a gota, talvez valha realmente a pena essa verdade...

espero que sim.

Supremus Dies disse...

it can't rain all the time...

Jamais deixarei de te admirar. Continua (a tua evolução).

Até já.

Anónimo disse...

Conheço a frase.

I guess you didn't know
all the stuff you left me with
is way too much to handle
But I guess you don't care...


Às vezes carregamos o mundo nas mãos. Mesmo que elas se sintam vazias, há muita vida pela frente. Deixar de acreditar nisso? Aí talvez seja mesmo o nosso fim. Anunciado.

Beijinhos*