15/12/2006

Wind


Queria falar-te em coisas simples e fáceis de explicar. De cenários altamente prováveis e de circunstâncias banais. De um cheirinho a canela e a açúcar entornados na minha vida e na imensidão de espaços a sobrar de ti e dela. Queria falar-te em semáforos que se abrem e de estores que se fecham, de casacos que se apertam e olhares que nos fogem em direcções que não pensámos sequer puderem existir. Mas que existem. E que me fazem apetecer falar em músicas fáceis de digerir, em literatura de cordel, em revistas cor-de-rosa, e apesar de tudo sentir que nada me disso me diminuiria, diante de ti ou diante dela.
Apetecia-me não ter medo de ser demasiado ou insuficiente para ti; de achar que, num repente estranho de entender, fosse feita à medida do teu equilíbrio, à medida da tua forma simples de ser mais que todos e, ainda assim, na sombra da promessa do que ainda serás. Apetecia-me gastar uma vida inteira a prometer a felicidade eterna em coisas fúteis. E a entornar a canela e o açúcar que me aprouvesse, sem que se esgotassem, sem que te cansasses e desaparecesses enfim. Apetecia-me saber que nos próximos vinte anos poderei ainda ser eu e, que dentro de vinte anos, estarás perto. Sem que seja preciso chamar por ti. Sem que seja preciso sequer abrir os olhos para sabe-lo.
Apetecia-me, enfim, saber como falar de coisas simples e fáceis de explicar. E de não ter medo de ser demasiado ou insuficiente para ti e para o Mundo. Sem que precisasse sequer escrever ou esperar. Sem que precisasse sequer ter medo.

2 comentários:

maria. disse...

este me fez chorar em silencio. num momento tao discreto quanto meu amor eterno por ele, que grita quando aqueles olhos negros vem em minha direçao. e a certeza confusa, de que ele está sempre perto, mesmo a 300km de distancia. e a duvida, sempre persistente, de quanto tempo eu tenho. de quanto tempo temos e nossos sonhos e nossos desejos? e quando será que ele vai poder ser só meu? daqui vinte anos? eu espero. ah eu juro que eu espero.

José Pires F. disse...

Até eu, que não ando nada romântico, fico para aqui embevecido com as tuas palavras.

Meu Deus... como escreves bem “miúda dos diabos”.

Este texto, agarra-nos logo nas primeiras linhas e não mais desprendemos dele. Chegamos ao fim com vontade de mais e mais e desiludidos por ser tão curto.

Por isso, li-o três vezes.

BRAVO!

Clap, clap, clap, clap...