17/12/2006




São ainda as tuas músicas que me aquecem quando o que sinto é o frio dele a largar-me a mão. Quando o perfume que me ficou na pele é o dele e o braço que me segura pela cintura não o teu, mas o dele. São ainda as tuas músicas e a tua filosofia sobre manhãs por acontecerem que escuto quando a minha tarde e a minha noite são dele, nunca teus. Quando ficar mais leve implica esquecer-me de fingir e abrir os braços, voar no abraço que é dele, e não teu; e amar as longitudes ímpares, e não pares, o rasurar transversal de linhas que falam dele e às vezes de ti, e o progredir para aquele mundo adiante que é dele, e não teu, como que fugindo do bem e do mal de que és feito e me fazes ser; como que vivendo para te ter longe, tal como te parece tantas vezes o ideal, e a mim também. São ainda as tuas músicas que me aquecem, tuas as baladas que persigo, teus os conselhos e as críticas, teus os olhos tristes. Mas é para ele que tento ir. E se desta vez não for para ele, tanto faz, porque há-de ser para outro qualquer que não tu ou a sombra inquieta do que és nas vidas suspensas que hoje não te procuram mais. Não nos cafés mais próximos, não nas horas certas onde ainda sei que estarás, com toda a certeza. E, sabes, não faz mal. Um dia, não serão mais as tuas músicas que me aquecerão ou embalarão na viagem de uma lágrima a um sorriso. Não mais as tuas músicas, as tuas filosofias sobre manhãs por acontecerem e pedaços de tempo que jamais se hão de repetir. Um dia, não serão mais as tuas músicas. Nem os teus olhos tristes.

5 comentários:

Luana disse...

Que escrito belo! Sensibilidade suave...

Voltarei...
Um beijo.
:)

maria. disse...

quando eu aceitei que vou ama-lo por todos os dias de minha vida, sem pular um. mesmo sem poder te-lo, por nem mesmo um único final de semana. eu guardei esse amor num refugio que ninguém sabe chegar, onde ninguém vai me roubar, e me alimento do meu próprio amor, por alguém que nunca vai saber, quao grande meu sentimento pode ser.

Clarissa disse...

... pois eu, doce Beatriz... não quero outos abraços, nem flores ou beijos, ou músicas, ou poemas... é a mim que procuro... e vou encontrando a cada dia que passa...
Um beijo doce.

Misantrofiado disse...

Antes de me alongar um pouco que seja neste texto, deixa-me dizer-te que o pássaro negro te suspira lá de cima. Se alguém o vê sem lho evidenciar, certamente serás tu. Se cumplicidade sente… essa permanecerá sempre.
Comoveste-me com este… esgaçar de sentimentos. Elaborando uma retrospectiva espontânea às tuas palavras aquando do teu encontro… sinto-te hoje, mais frontal, mais sincera, mais mulher.
“…como que vivendo para te ter longe, tal como te parece tantas vezes o ideal, e a mim também”, dá-me a certeza do pacto decidido por ambos, mas, parece-me tão dúbio!
Mas por outro lado, quem escreve o que sente, não se engana e eu… concedo-te um sorriso (um sem olhos).

José Pires F. disse...

É! Um dia... que o tempo tudo faz.