21/04/2012

Cartas de Coimbra LV - reciclagens.

Há dias de perfeito pânico. O nó na garganta, as naúseas que parecem nascer-nos no coração, a boca seca de tanto mentir. O medo de parar porque ao parar o mundo nos cai ao chão e hoje temos, por definição, demasiadas consequências para abraçar. Olho para trás todos os dias, para que me sinta em casa. Revejo as fotografias daquele inverno a todas as horas; deito-me sobre os lençóis e no tecto do quarto desenho a vida que tivemos lá fora e que nos impede o regresso, e que nos mortifica porque a felicidade parecia afinal tangível, e de repente o cheiro e o toque das nossas melhores pessoas fugiu e nós não somos simplesmente capazes de seguir em frente.
Tenho comigo tantos segredos. Um sem-número certidões de incompetência para se fazer parte de alguém. Depois dele, na mais profunda das consciências e na mais plena das memórias, não haverá ninguém mais. Assim me responde cada centímetro meu, cada forma, cada trejeito...

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