26/03/2011

Cartas de Lille XV


E há os eles da minha vida. E exististe tu. E eu existo e não entendo os contornos disto. Consumida nas pequenas misérias a que chamei vitórias. Segura num mundo movediço com sabor a vinho branco. Lamento, mas isso de nada me serve, porque o amor bateu a porta e eu abri a porta errada. Os homens continuam a desapontar-me pelo reflexo que vejo de mim própria. A promessa intempestiva de que tudo tem um prazo e de que tudo trás mágoa. E o charme cego de tudo aquilo que trás horas contadas.

Hoje de manhã, acordei de corpo tombado à cabeceira da cama, de maquilhagem rasgada na palma das mãos. O orgulho tem razões que a própria razão desconhece. E um dia, inevitavelmente, vou ficar indiferente ao tudo que se passa, ao tudo que se rouba no pedaço de chão entre dois bares. Vamos dar por nós destilados de raiva e de paixão, encostados à porta de serviço, a ignorar o cubo de gelo que seguramos na boca.

4 comentários:

Misantrofiado disse...

O culto de nós próprios.









Esta tua reflexão teve o condão de me lembrar de mim mesmo. Do rasto que deixei e continuo a deixar atrás de mim, mesmo que, em nada considere o meu passado algures na rectaguarda do tempo, porque simplesmente não me lembro das vidas que tive além desta, mas, da indiferença... do silêncio... eu sou filho e neófito.

Misantrofiado disse...

"Nunca.
É tão mais fácil deixar fugir a nossa debilidade, que a encontrar em abraços assim"

:)










- Não poderias ter respondido mais afirmativamente, sabes disso, não sabes?
“Nunca” é demasiado tempo. Nenhum de nós o conhece.
O “fácil” é tão metafórico quanto aquele “abraço”. Tanto quanto nós próprios.

Beatriz disse...

Não tem resposta possivel a isso, apesar de eu ter ensaiado varias, ora demasiado evasivas, ora demasiado pesadas. Acho que tudo se esgota quando nos apercebemos que tudo isto não passa, realmente, do culto de nós próprios. Nunca foi mais do que isso, mesmo quando eu tinha 16 anos e um Corvo Negro à minha janela.
Parabéns Atrasados. Eu tentei fazer-tos chegar a tempo, mas de alguma maneira, não funcionou.

Misantrofiado disse...

:)
Obrigado Bi.








O Corvo está lá... sempre.
Mas muito raramente à janela