02/02/2011

Cartas de Lille XII


O frio das primeiras horas da manhã não tem preço. Tem o gosto destemperado dos sonhos que interrompemos. Deus tem comigo demasiados segredos. Na minha cabeceira, não existe senão a consciência da precariedade das coisas, erros por defeito, tristeza revestida por tantos porquês suspensos. Que me perdoem, mas a minha vida ficou para sempre condensada naquela tarde. Passaram-se 4 meses e a expectativa continua infiltrada em todas as minha ideias. O rosto dele presente em todos os homens. O pavor da sua presença a minar a minha insuficiência. Que me perdoem, mas ha qualquer coisa de irresistivel na ideia de o procurar pela cidade e de nunca o ter achado. De ouvir vezes sem conta a musica que me tera tocado, de sentir a dimensao de todas as hipoteses que se abriram e se fecharam com o desgaste de uma vontade assim, tao estupidamente perturbante.

Na minha cabeça, aquela noite repete-se em flashes. Não posso sequer acreditar que aconteceu. Lille esta cheia dele, e Lille esta cheia de pressa. Vou traze-lo comigo para o resto da vida, estampado tal uma vertigem naquilo que foram os meus 20 anos. Não concebo a ideia de ter envelhecido e de repente isto tera sido apenas uma mentira. Um jogo de sensações a ameaçar levar-nos a loucura. E apesar disso, a humanidade deste desfecho tera sempre uma razão de ser, o fazer-nos voar apesar do quão pesada trazemos a consciência, o fazer-nos chorar por mais que sejam lagrimas de crocodilo. Preciso esquecer.

1 comentário:

Misantrofiado disse...

Tu e eu sonhámos uma aparência permanente mas... sempre acordámos sem nunca a ter tido
Desejámos a virtude de uma figura como uma labareda de Universo…

Algum momento pleno?
Nalgum lugar propício?





O sonho podia até ter o timbre sereno do silêncio se...





O seu segredo tivesse sido alguma vez ouvido.