16/06/2009

Cartas de Coimbra XXIX

by ShotgunxSerenade


O tempo a esgotar-se e aos vinte anos temos medo de ficar sozinhos para sempre. O tempo a esgotar-se e a pressão que todos os dias nos obriga a coisas que não somos capazes. Na minha palma da mão alguém leu que eu não seria feliz assim. Os tristes acasos são a porta de entrada para um mundo de soluções. Ser livre de sentir não existe. Ser livre não existe. À procura de um porto seguro para que tudo o resto faça sentido, temos vinte anos e temos medo de ficar sozinhos para sempre. Estamos cansados que tudo nos falhe. Estamos cansados de correr, de construir uma muralha inabalável de projectos, de ter uma mão cheia de ideias mas nenhuma certeza. Mas nenhuma segurança.
Fizemos asneira repetidamente. Falámos demais, cedo demais, alto demais. Coimbra não nos perdoa tudo e nós seguimos na única direcção que conhecemos. Pedimos beijos e abraços em troca de vinho, fomos fiéis às pedras da calçada mas não às promessas dos amigos. Seguimos juntos sem dizer nada. O mundo acabou para quase todos nós, levamos a corda ao pescoço e as mãos atadas. Temos fome, temos sede de coisas novas. Falta-nos cor. Falta-nos tempo para nos sentarmos e chorarmos até tarde. Falta-nos banhos de chuva, banhos que nos lavem a alma, que levem a secura, que nos restituam a paixão. Precisamos todos de ler romances outra vez e de acordar com alguém ao nosso lado. Alguém que não consiga dizer que nos ama. Precisamos todos de menos espaço, para não nos sentirmos tão sozinhos.



9/6/2009

1 comentário:

Anónimo disse...

continuas a arrepiar me desde o 1º post.
admiro te bastante.