07/05/2008

Cartas de Coimbra IX



Meu amor, esta é a vida que trouxe ao colo durante todos estes anos e que hoje é a própria Coimbra a quem todos nós nos rendemos. A intensidade da revolta, a intensidade das canções, a intensidade da sobrevivência. O que entendo hoje sobre o valor de ser estudante nesta cidade é muito mais do que palavras – na maior parte das vezes, canções. Não acredito que em parte alguma exista tamanho sentimento como o que envolve estas capas e batinas, este orgulho tão devidamente arrogante, esta nostalgia, esta paixão tão sujeita ao vagar dos dias, um Mondego assim, a eternidade das baladas e dos afectos, a intemporalidade das músicas de intervenção, o rigor e a tradição de mãos dadas. Um sofrimento assim que se adia com goles de traçadinho e de amizade.
E sabes, meu amor, tu estás nos interstícios desta vida, nos acordes de cada guitarra. Estás nos rostos de todos os homens que nos saudam na mansidão das madrugadas. Estás no calor aconchegante de uma capa traçada no regresso a casa. Estás nas vozes de fundo quando Coimbra inteira lança as capas ao ar e sonha em conjunto. Estás, acima de tudo, no entendimento que tenho hoje das coisas e da complexidade das coisas, tornando-se tudo, a pouco e pouco, cada vez mais simples. Porque tudo, meu amor, tudo passa, e estes dias passam por nós como que a juventude a revestir-nos a pele e a tornar-se memória. E sem darmos conta, a vida aconteceu-nos, quase por acaso...


6 comentários:

Maresia disse...

Descobri este blog hoje... E voltarei! Escrita fabulosa!

Anónimo disse...

tu enches me a alma...

scaramouche disse...

parabéns pelo blog.

scaramouche.

c.bruno disse...

das coisas mais bonitas que li nos últimos tempos, sabes? :)

V. disse...

depois passa no meu blog porque tenho lá uma coisa para ti*

Susana disse...

bem, acabei de descobrir este blog e deliciei-me... fenomenal!