23/07/2007

Closer

Sempre quis escrever sobre este filme. Closer. Perto Demais. Um hino triste às relações.

Antes de mais preciso que saibas que não sei do que falo. Sou demasiado nova, demasiado ingénua e demasiado insegura para falar como argumento de autoridade. Coisa que não sou. Mas olho e vejo as pessoas a mudarem à velocidade da luz, olho e sinto que não sou capaz de suportar a inevitabilidade dos “felizes para sempre”.
Não se trata de não sermos capazes de amar. Porque somos. Somos mesmo… Amamos, mais não seja, aqueles que nos trouxeram ao mundo, amamos o nosso ego e os nossos valores. Porém, as relações humanas encerram coisas que desviam a nossa atenção para os detalhes errados. O Ciúme. Os Caprichos. A Traição. Uma perfeição que não existe em lado nenhum.
Penso nas relações que duram anos e anos. E fico siderada com isso. E depois olho e procuro pela individualidade de cada uma das partes. Uma individualidade esbatida num compromisso estranho e que, apesar de tudo, existiu desde sempre. Onde pára a noção de felicidade quando as pessoas parecem estagnadas, conformadas, à procura de relações paralelas, de mentiras piedosas, de fugas rápidas e silenciosas? Quando precisam apenas de fazer valer os seus compromissos para não se enfrentarem. Para não darem por si sozinhas. Quando tudo é feito para se estar encaixado nalgum lado. Para se seguir um estilo de vida adequado. Para se ser livre, preso num amor que é precário e que põe condições. Não sou capaz de conjecturar a eternidade de coisa alguma. Mas essa eternidade acontece e eu não consigo entender como. Ninguém permanece imune ao Tempo. Nem aos Acasos, nem às Tentações, nem a nada…

Closer celebra um amor leviano que cruza e descruza quatro vidas. Quatro vidas inverosímeis talvez, mas abraçadas a um tipo de amor bastante provável.

8 comentários:

Zenith disse...

Esse filme surpreendeu-me. É muito crú.
Mas depois de ler o teu post, pensei no seguinte: uma relação para ser duradoura, tem de ser um equilibrio entre uma harmonia entre duas pessoas, mas sem nunca perdermos a nossa identidade nem o nosso espaço.
Assim, o problema passa a residir, não na relação, mas decidamente na pessoa.
Beijo

dora disse...

( Um dos meus filmes ! Inclui-se a banda sonora )

V. disse...

Um soco no estômago. O filme.

*

maria. disse...

sabe duma coisa... as vezes reclamo da falta que me faz amar alguém, mas te digo melhor assim, essa vida morna e enjoativa, do que uma vida falsa, fugitiva de quem nao suporta estar.

sabe?

Bruna Pereira Ferreira disse...

Esse "Closer" assusta tanto...
Porque não é só um filme. Está mesmo cada vez mais perto das nossas vidas. Isso é que assusta. O ele ser real.

Beijinho*

Mateso disse...

Claro que ninguém é imune a nada. Mas as relações crescem e envelhecem com o tempo. São como a fruta, amadurecem. A arte é saber colher no ponto. Maduras, quentes e saborosas. Degustam-se até ao fim e sabem bem. Não há hipocrisia, Homem e a Mulher são um binómio que se completam na totalidade. O tempo torna-os mais serenos, mas o sabor não se perde, torna-se mais acentuado, sem a necessidade quase compulsiva de uma prova constante, porque se sabe que se está lá, que o tempo espera.
A serenidade é a aliada do amor.
Beijo.

eyeshut disse...

é curioso, tanta gente me falou neste filme que fui vê-lo na altura. o consumismo finalmente a invadir os sentimentos. saí a saber que não pertenço a um mundo de afectos assim. ou que espero nunca vir a pertencer. afectos descartáveis na cínica capa de liberdade. aproveito a tua frase que, a mim, me disse tudo: "um hino triste às relações."

Maria del Sol disse...

Acho que é na sua crueza e desencanto que reside a verdadeira força deste filme. É a parte da identidade emocional pós-moderna que não queremos reconhecer, mas que ameaça absorver-nos. E é preciso ser-se um actor muito acima da média (como os deste elenco, sobretudo Clive Owen e Natalie Portman) para encarnar este cruel estereótipo.

É a primeira vez que visito este blog, mas não será a ultima. Excelente texto :)