18/08/2008

Cartas de Lisboa III

Divorce, by Bogac Erguvenc


Às vezes acho que sei qual é afinal o teu segredo. Estás bem porque te conformas. E a felicidade, dizem, não é afinal apenas dos tontos, mas principalmente dos que se conformam.

Eu estava bem, há muito tempo atrás. Sem ti e, por sinal, sem ele também. Conformada com as coisas pequenas, com os detalhes bonitos que só existiam no vagar de quem se sente sozinho. Voltei a Alcains, desta vez para te enganar. E depois dei conta que me enganava eu por ti e senti-me transparente. Achei-me tal uma coisa bem simples de se perceber. Só queria que reparassem em mim. Que cada pergunta e cada resposta tivesse retorno. Que cada sorriso se convertesse na certeza de nunca ser deixada para trás. Só queria ser importante para ele e, eventualmente, para ti. Ter crescido noutro sentido, com as responsabilidade nas mãos e não às costas. Só queria ter-me chegado à vida pondo um pé à frente do outro, ouvindo o que toda a gente gosta de ouvir, num caminho com muitas portas. Num caminho que me desse tempo para viver cada alternativa. E sim, eu sei. Cada escolha abdicará sempre de uma outra escolha e em vida alguma poderia ter vivido as duas. Mas, olhando para trás, só queria realmente ter pensado melhor, falado mais, questionado sempre, para que hoje, eventualmente, tu fosses embora e eu não me importasse com isso.

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