06/03/2008

Cartas de Coimbra VI

por Inês Sacadura

Há filmes que te fazem rever por dentro e por fora. De vários ângulos, um por um, todos em simultâneo, num rastreio interminável que julgas vir um dia a culminar numa visão mais sensata da realidade que és. Mas nunca vai ser assim. E tu me dirás que não e sacudirás a cabeça como se desaprovasses tudo no que me tornei hoje.

Foi na paragem de autocarro que ele me disse. Disse-me que me levava a casa. Que me levava a casa porque tu nunca o perdoarias se alguma coisa me acontecesse. E isso fez click na minha cabeça, sabes? Não te sei dizer de que forma. Mas o que eu mais queria naquele instante era tão somente que ele não tivesse dito aquilo. E que não se tivesse rido depois, e que não me tivesse visto chorar, e que não me tivesse levado a casa como prometeu. E que a minha história fosse outra, outra qualquer sem margens de engano, sem que eu pudesse duvidar da autenticidade das coisas.

E a minha verdade não pode realmente ser apenas mais uma. A saudade que ainda sobra dos dias porque não me encaixo neste paralelo como me encaixava em ti. A demora das coisas em acontecerem e todos os dias o teu nome soar com menos raiva, com mais distância. A confiança que não tenho ainda para dar a ninguém mas que, por evazivas, vou-lhe dando, tão cega e tão desperta quanto só tu me sabes ser. Um duplo nó na garganta a endurecer em dias
em que te escrevo porque não tenho escolha.

E há filmes que te fazem rever por dentro e por fora. Sem que isso mude coisa alguma.
.
.
O filme... Awake. Mas só para alguns de entre nós.

6 comentários:

Atividades de Filosofia disse...

Sermpre passo por aqui e aprecio

V. disse...

um dia, muda tudo. :) *

Anónimo disse...

Hoje, deixo apenas e só um beijinho.....

Anónimo disse...

venho aqui algumas vezes... desde aquela vez em que li e me revi em ti...

Deixo-te uma sugestão se ainda nao viste:
"the eternal sunshine of a spotless mind"...

Andreia disse...

Vai mudar Beatriz. Vai mudar!! Ainda que demore.

Um beijinho

Ankh disse...

Um abraço pode ser tanto do que não se diz e mais do que se sente. saberemos responder alguma vez porque não gostamos de chorar se Sabemos que certamente depois no sentimos melhor?