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tomette. by moumine |
foi bom ver-te. um dia, talvez, te concretizes na minha vida como um ponto final. todas as
noites me lembro. sustenho a respiração, abafo o soluço, recrio os teus olhos
fixos no chão; e eu ali, ao teu lado, tão longe. tão longe,tão hirta, tão fria,
tão só.
e ali fico,
hirta, triste, longe, partida, a fingir. finjo sempre, e às vezes dou por mim a
chorar. sei-te escondido num luto onde não me deixas entrar - logo tu, que eras
tudo, que eras chama, vento, história. não te posso amar porque não saberia
fazê-lo. o teu corpo, as tuas mãos enormes, o teu desdém. mas fazes-me falta em
tudo o que sou, em tudo o que faço. trago comigo a agonia de não saber de ti,
de querer repetir-te em todos os estranhos, de te querer contar, de ter a
certeza que em mim sobrará sempre um vazio maior que eu, maior que todas as coisas.
afinal amo-te.
na incongruência que é ignorar estes porquês de andarmos há tanto tempo à
espera do mundo. não sei onde estás. todos os dias, nestas minhas latitudes
perdidas. não sei onde estás nem porque te importas em continuar tão longe. o
meu amor foi um amor frio. contemplativo. infiél. indisponível. não sei onde
estás mas procuro-te todos os dias. na lista telefonica, nas salas de espera,
nas janelas de todos o aviões. em todos os homens em fuga.
faltaram-nos as
palavras. mais que o tempo, mais que a noite. eu só queria ter-te dito
como paralizaste a minha vida e me empurraste nete vício de saltar sem rede. de
amar sem destino, de ficar sem razão, de morrer sem ti.
um dia, talvez, te concretizes na minha vida.