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Fui correr hoje à tarde, sabes? Até não poder mais. No sítio do costume, com a companhia de sempre. Com os mesmos motivos nas palmas das mãos fechadas. Tu e Ele. Nós os dois e nós os três. As aulas, o tempo, o futuro, o destino que escolho hoje e sobre o qual sei tão pouco. Os motivos de sempre a latejar-me no peito sem ar. E depois começou a chover. E eu corri com mais vontade. Quanto mais depressa, mais inevitáveis esses motivos. Menos a culpa das decisões mal tomadas. Menos o medo de agir mal e de ser obrigada a voltar atrás. E depois… depois choveu ainda com mais força e eu parei. Na paragem do autocarro de sempre. Reparei que os passageiros eram quase todos os mesmos. Facto sem importância nenhuma, mas que tu terias reparado. E terias encostado o rosto à janela molhada e acompanhado o ritmo da chuva como se fosse o teu próprio ritmo cardíaco a abrandar. E depois… depois não haveria depois. Irias assim, dormitando na chuva, nos sonhos salpicados de uma vida tão macia quanto o meu cansaço. Gosto de me sentir assim e de te lembrar assim. Como se toda a energia fluísse em mim, numa corrente suave e imparável, com ritmo e destino certos. Até a um espaço de certezas. E amanhã é outro dia. Para ti e para mim. Não importa se esse espaço não tiver sido ainda conquistado. O que importa é poder ver-te fixar-me e não restar dúvidas que existes, quiçá que existimos.
5 comentários:
Olá Beatriz
O teu texto tocou-me... Acho até que senti a chuva na minha pele. Muito bonito.
"Menos a culpa das decisões mal tomadas"
Hoje também queria correr. À chuva. Podia ser que essa tal culpa desaparecesse...
Beijinho.
"Crescer para que? Ser e esquecer"
A sorrir... sublinho "E amanhã é outro dia".
Os teus pés são navegantes na espuma, o teu cabelo dança em descuidada ironia, suave viagem de ondulante onda em tua boca, duas sílabas sopradas em mágica melodia…
Bom fim de semana
Doce beijo
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