Na verdade esta sou eu, suspensa na paz que é uma vida com as contas pagas e o telefone sem saldo. os amigos cantaram-me um fado de dúvidas, tu ligas para dizer olá e deixas recado. é um registo de dias com maus timmings. gosto de músicas assobiadas. gosto das mãos nos bolsos, das camisas largas, do cabelo em desalinho falando alto a desinibição que não tenho. gosto do sexto sentido das nossas almas gémeas. dos olhos que nos atravessam e que nos dizem, num segundo, mil coisas, sem perguntas, cem respostas. falta-me tacto e, às vezes, faço os outros chorarem. há silêncios duros de aguentar e as palavras levam tempo demais a morrer. o medo é uma ideia gasta, uma música que ficou no ouvido. na verdade esta sou eu, nas paragens de autocarro vazias e frias. as histórias que temos para contar. as músicas e os homens da nossa vida, recuperados dum livro de memórias, de um momento de pouca fé que nos fez recuar e ter de novo 13 anos. penso todos os dias em voltar a dormir no teu corpo como se a eternidade se prolongasse ali e naquele momento, para sempre. os sentidos despertos, o roçar das mãos, o dedilhar dos dedos, o calor que nos queima e apetece, as texturas de todas as nossas preces. Perdoa-me mas às vezes não sou capaz de mais. sigo a ciência dos fortes e dos que sabem fingir. toda eu sou lembranças e coisas tristes. a tremenda e perspicaz vontade de chorar nas horas erradas. os medos que ficam para sempre. Para sempre.
O futuro chegou depressa demais. ontem tivemos os primeiros desgostos, ontem pensámos que nunca seríamos mulheres a sério, ontem tivemos medo de não crescer. o futuro chegou depressa demais e ninguém diria que ainda somos os mesmos. levo as mãos ao rosto e sinto-me igual. o mesmo medo de nunca ser uma mulher a sério. e nos intervalos do tempo, sinto as minhas nove vidas a esgotarem-se com o passar das horas. e faço delas um tributo aos nossos mortos, religiões aparte, apenas porque há lições de vida que só a morte nos dá, e uma delas é o Tempo.
O futuro chegou depressa demais. ontem tivemos os primeiros desgostos, ontem pensámos que nunca seríamos mulheres a sério, ontem tivemos medo de não crescer. o futuro chegou depressa demais e ninguém diria que ainda somos os mesmos. levo as mãos ao rosto e sinto-me igual. o mesmo medo de nunca ser uma mulher a sério. e nos intervalos do tempo, sinto as minhas nove vidas a esgotarem-se com o passar das horas. e faço delas um tributo aos nossos mortos, religiões aparte, apenas porque há lições de vida que só a morte nos dá, e uma delas é o Tempo.