30/11/2010

Cartas de Lille VIII



Eu tenho os meus segredos e planos secretos, Só abro para você mais ninguém.

Isto aqui é para ti e para mim. Não importa as portas que abrimos e as portas que fechamos e as decisões sem volta que tomamos. Não importa. Porque depois, no silêncio da noite, no regresso frio a casa, nas manhãs demoradas na minha cama... serás sempre o melhor de mim e estas serão sempre cartas de amor. Tenho saudades tuas.

19/11/2010

Cartas de Lille VII

Na última madrugada, deitei-me num mundo de realidades invertidas e hoje é já tarde para compensar o tempo e a energia perdida a tentar consertar o que não tem conserto. Fomos feitos um para o outro e de repente Paris era para mim a cidade perfeita para me apaixonar por um estranho e materializar ali, outra vez, todas as fantasias de uma pessoa que já não sou, faz tanto tempo.
Ele voltou para mim, sabes? Voltou para me dizer que tu me levaste, que tu te arriscaste na sorte que ele não quis, que tu me fazes feliz na maioria dos dias. Ele voltou com um bouquet de rosas murchas a repetir-me ao ouvido tudo o que não fomos porque eu te quis a ti. Em mim alguma coisa nasceu, nas lembranças que eu já não tinha, nas memórias que inventámos.
Agora estou sozinha e rasgo as ruas submersas de folhas de olhar vazio. A paisagem, não importa por onde vou, gela-nos brutalmente por dentro. Beleza de morte. Foi assim que me perdi em Paris e te procurei em todos os homens a quem cedi. Nesses entretantos, ele não veio e eu esperei até o frio me meter novamente no último comboio da noite. Tudo agora é uma indefinição de rostos, sabores e lugares. Nada se adequa. E depois ele pergunta-me o que quero eu afinal e na minha boca há ainda um misto de tristeza e adrenalina. Cerveja seria a resposta, como uma pontada de ironia que nenhum deles compreenderia. Eu quero-te a ti, como sempre quis, mas eu já não sou eu e eu já não sei quem sou. Eu já não sei quem tu és.

06/11/2010

Cartas de Lille VI


Estraguei tudo. A mistura do prazer mudo com a tua memória. O reggae injectado nas nossas veias. O regresso à terra. A impotência de saber exactamente o que se quer, agora sem dúvida nenhuma. Desculpa estar tão longe. Tudo isto é um labirinto de gente e eu ia bem até me perder e ficar sozinha outra vez. As guitarras calaram-se. Ficou aquele silêncio magoado do fim de uma era. Angústia, ansiedade, um eterno lamento. Sinto que uma oportunidade de uma vida me fugiu das mãos. Que a deixei cair, que a parti em demasiadas partes, que fiquei coberta com o pó, o cheiro e a cor de uma repetição de noites que eu não planeei. Foi uma miragem. Continuo eu mesma. Pacientemente deslumbrada com a mais pequena demonstração de afecto. Um corpo quente a arrefecer ideias na transparência de mais uma noite.