14/10/2007

Para ti, desde sempre,


Escrevo-te de uma secretária que não conheces, ainda. E digo ainda porque espero que venhas a conhecer todos os lugares da minha vida, e todas estas secretárias à frente das quais me sento para te escrever, ou para simplesmente escrever, ou para simplesmente coexistir sentada com a tua memória, com o teu retrato e a falta que hoje e sempre me fizeste.

Tu entendes. A vida é feita destas coisas pequenas e é a elas que me agarro quando sou pequena demais para todas as outras. E as minhas pequenas grandes coisas não são mais do que secretárias decoradas de um vazio figurativo. Não são hoje mais que as canções de sempre, aquelas que me trespassam porque me falam de ti; não são mais que ameaças de chuva, do que gatos pardos a olharem siderados para nós nas tantas viagens que nos habituámos a fazer sozinhos pelas ruas de Coimbra. Estas são as minhas pequenas coisas. As outras, as grandes, as coisas gigantes... essas são para depois. Para quando, passo ante passo, algo sugira que, na distância e nos tropeções, não existe nunca uma meta única. Nunca um desígnio que despeça todas as outras tantas hipóteses de recomeçar outra vez. E é assim que quero viver contigo: sem que nunca uma decisão seja uma sentença de morte para nenhum de nós, sem que nunca, por causa desta vontade de sermos maiores do que as expectativas nos esqueçamos de ser pequenos, sem que nunca paremos de amar as crianças de costas voltadas que fomos.
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E esta é talvez a nossa melhor canção de sempre...