13/02/2012

Cartas de Lisboa XV

it was a cold, winter morning... by mala_lesbia


Na estupidez natural dos homens, todos eles acabam por se misturar com o reflexo que vêm de si próprios no espelho dos elevadores. Coisas que a rotina faz e que a pobreza de espírito deixa alastrar. Manhã atrás manhã, vejo as lembranças a definirem-lhe os contornos dos olhos e ele não me deixa ajudar. Vejo-o tornar-se um pedacinho ridiculo de vaidade, tudo por conta de um medo que não deveria dizer-nos respeito. Todos os dias torna o amor uma coisa impessoal e desfeita pela própria incongruência do mundo; e todos os dias volta e abraça-me e diz-me que são fogos assim de que ele não precisa, e que são fogos assim que nenhum dos dois pode conter.
Na estupidez natural dos homens, hoje já todas as virgens aprenderam que o egoísmo não é corrigível. Somos a melhor coisa que alguma vez lhes acontecerá na vida e isso emerda-nos profundamente. Na guerra de espaços e de tempos e de pedaços de memória por explicar, eles deixaram o nosso coração para trás e nós morremos de tanto esperar por alguém que nos abraçasse como se realmente nunca nos fosse largar. E assim assim, tentamos ser sempre melhores. Carinho, sedução e paciência nunca hão-de chegar. Nunca. Não sei que procuras no mundo que o mundo não te queira dar, ou que felicidade escondida verás tu em todos os futuros que te foram vedados. Eu procuro a paz do teu corpo, depois de tantas horas e tantos quilometros feitos só para me dar por dois segundos. Já não consigo nem perdoar a complexidade que as mulheres não têm, porque foi tudo entrega, e foi tudo verdade, e foi tudo mais do que tu alguma vez mereceste. Vocês não passam, afinal, de um mero reflexo no espelho de um elevador. A liberdade e o direito à má escolha. O eterno castigo de uma liberdade sexual de que me arrependo em dias assim. Vocês não passam, afinal, do passado de outras mulheres que foram para lugares melhores e se arrependem como eu me arrependo.