10/11/2011

Cartas de Coimbra XLIX

Há dois anos, as opções esgotaram-se e eu fui embora. Ele não me queria e eu queria um lugar exclusivamente meu. Tornava-me mais invisível a cada dia que passava, e ele só a queria a ela. Naquela noite, fui embora como quem foge e, no virar da hora das decisões, fiz as malas e prometi que aquela noite nunca mais voltaria a acontecer. E, no entanto, vi o reflexo da mesma memória repetir-se em mim, dias a fio. A distância não nos protege para sempre e o tempo não cura coisa nenhuma. Não. O tempo não nos cura. O tempo não nos consola. Deixa-nos entregues a uma nova história que escrevemos por cima de tudo o resto, uma história como nunca ninguém a pensou.


Um dia ele disse-me que o amor dos tontos viria para explicar tudo o resto. A vida que não se define num ano de exílio. A vida enxuta de cerveja, seca de chavenas de café e de boleias sem destino.



Um dia, ele disse que viria, como o disseram todos eles. Como eu o disse. A traição foi-me explicada como se o eu fosse o mundo e o mundo o meu espelho. Senti que a história muda aos 21 anos como se soassem por fim as badalas iniciais do resto da nossa vida e como se tudo aquilo fossemos nós próprios e tudo aquilo, a nossa razão de ser.



De repente, posso ser mais do que o próprio sonho porque fui, vi e voltei, e o sonho foi de fronteiras, sexo, incenso e promessas. Perdemos todos a vergonha na cara, chorámos os amigos a cada madrugada de insónia, lutámos em vão contra orçamentos tão curtos pelos reencontros que nunca tivemos. Foi o melhor ano da minha vida. O lugar distorcido onde as emoções chocam e tudo nos falta.