24/06/2007


Esta é a linha do entendimento que fazemos das coisas. Linear. Linearidade. Linearmente. Capazmente, com um inicio e um fim, não importa se partimos de A para B, ou de B para A.

É por isso que a matemática é importante para os que se preocupam com os pormenores. Porque matematicamente nenhum caminho é igual conforme a perspectiva que temos. Será sempre diferente, a paisagem, o módulo da força motriz que te empurra numa viagem de regresso, os custos do coração, a traumatologia de um sorriso captado cedo de mais. O que eu sei é que os felizes não concebem filosofias. Vivem-nas e melhoram-nas. Os felizes não escrevem poesia. Nem sequer má poesia. O que eu sei é que serei sempre incompleta: faltar-me-ão sempre a felicidade dos tontos ou as palavras dos lúcidos. As mãos cheias de tudo ou o medo de perde-las. Faltar-me-á sempre paixão pela vida ou a própria vida. Nunca terei as duas coisas em simultâneo. Nunca serei completa. Quer eu enviese pelos caminhos de sempre ou por novos destinos. Quer eu aprenda a amar-te como amam os tontos, quer eu te minta como mentem os lúcidos.Mas isso agora não importa. Não sei escrever-te com postulados lógicos para que depois possas deduzir que sou assim ou assado. Eu sou um emaranhado de sentimentos que se renovam de hora a hora, segundo o que a matemática e as circunstancias ditarem. Por isso preciso que me conquistes todos os dias. Preciso que sejas difícil. Um mistério que me afunda no calor mais ténue do mundo e que permanece insolúvel.

20/06/2007

"This years love had better last"



Convido-te a que te olhes ao espelho e que procures pelo teu dia seguinte. Ergue uma escada até ao topo da consciência reflexa que é a tua imagem. Descobre, de uma vez por todas, que és a consciência da tua imagem e que ages, por norma, como se tivesses a tua imagem por consciência. Uma mulher, esteja ela feita ou por fazer, tem uma memória demasiado grande para se esquecer das tantas vezes que te esqueceste dela. Das tantas vezes que a deixaste de plantão à espera de um abraço que nunca veio. Que a amaste e tiveste vergonha de prova-lo a ti próprio. Uma mulher, seja ela grande ou pequena, não precisa que a adores, nem sequer que te apaixones. Espera de ti apenas o mesmo que exige de si. Presença. Sentido de oportunidade. Principalmente, sentido de oportunidade. Lamento que venhas tão tarde para dizer que me adoras. Eu esperei a vida toda e hoje descubro que tenho ainda uma vida inteira pela frente. Tive medo da iminência das tuas partidas definitivas e, de repente, conquistei um lugar dentro do teu espaço. Inverti os nossos caminhos paralelos. Comecei a prever-te, a saber o que dizer. Comecei, acima de tudo, a desistir. E só, então, tu tiveste tempo e vagar para me encontrares. Quando, na verdade, eu estive sempre aqui ao teu lado.
Ouves esta música? Foi o primeiro motivo que me destes para desistir. Eu partilhava contigo o bocadinho de insuficiência que era e tu não notavas. Nem tu, nem mais ninguém - só ele. Só ele… Não podes, pois, fazer-me crer que ele só me trouxe mal, quando eu sempre te procurei a ti nos lábios dele e tu não me soubeste atender.
A vida é eterna em 5 minutos, sabes? Durante os meus 5 minutos. Os meus 5 minutos de eternidade quando olho para o relógio e reparo que tu não vens mais. Nunca mais. E ele, ele virá, porque ele vem sempre. Basta chamar. Mas tu não. Tu nunca vens. Tu escolhes os teus 5 minutos e reparte-los de forma a somares segundos perdidos nessa tua vida de intermitência e de amores adiados. Preciso que pares de ser apenas espírito e te tornes homem. Pelos menos, por 5 minutos. Durante os meus 5 minutos. Não importa o sítio. Por hoje até te deixo subir. Quero ter a certeza que por 5 minutos me pertences e que, ao me abraçares, é a mim que abraças e a mais ninguém.

12/06/2007

Normalidades...

Não chega estarmos moralmente aprovados pelos códigos comportamentais que a Ética determinou e que a sociedade elegeu. Vendo bem, não chega sermos honestos, sermos justos, sermos modestos. Temos que ser saudáveis física, psicológica, emocional, espiritual e intelectualmente. Temos que viver imunes aos traumas que toda a gente tem (menos nós), ser respeitadores da ordem e do silêncio públicos, saber a vida de toda a gente e de ninguém. Temos que ser heróis, sobreviventes de uma doença qualquer que mistificou o nosso comportamento, temos que ter um calcanhar de Aquiles e ser simultaneamente perfeitos à luz de todos os contextos. Temos que perceber matemática, ler poesia, ser dois génios numa só pessoa, emocional e objectiva, artistas apaixonados por tanta arte que não chega efectivamente a ser arte, cristãos convictos que se dão a si próprios e que recebem nenhum, ateus frios e calculistas que pegam o touro pelos cornos e que sabem que nenhum deus lhes pode valer senão eles próprios. Temos que viver para os outros e para nós próprios. Ser simples e humildes, ambiciosos e tenazes. Temos que respeitar os outros e fazer pela vida tudo o que a vida exigir que façamos. Temos que fazer voluntariado, escrever num blog, praticar desporto, ter um gato, sair à noite e estudar espanhol. Temos que ir para a faculdade e ter um part-time num call-centre. Temos que ser originais, mas nunca excêntricos. Temos que ser bons mas nunca parvos. Bonitos mas nunca estúpidos. Perfeitos mas nunca ídolos. Temos que ser normais. Absurda e fanaticamente normais, não importa quantas incongruências isso implique, quanta falta de sentido lógico isso exija. Acima de tudo, dar resposta a tudo o que o mundo exigir de nós. Não vamos aprender com os tropeções da vida, somos escolhidos muito antes para que garantamos que não vamos tropeçar em momento algum da nossa vida. Vida esta que acreditamos ser passageira ou cíclica, duas filosofias numa só, o perfeccionismo a todos os níveis e sob qualquer ângulo.
Irrita-me viver assim. Irritam-me as pessoas formatadas de um único modelo, que partem dos mesmos ideais, que consomem as mesmas drogas, que gozam férias nos mesmos sítios, que se vestem de igual, que lêem as mesmas coisas, que são únicas e especiais de corrida, que não fodem de noite nem dormem de dia. Que estão gordas o ano todo e magras apenas aos olhos dos médicos. Que estão actualizadas mas não sabem discutir política. Que falam falam, mas que nunca dizem nada…

09/06/2007

Fim do Princípio, dizem eles...

(sem título)


Estou doente. Absurda e francamente doente. Logo nesta altura do ano, quando eu deveria estar no meu melhor, perfeita para te merecer, capaz para ultrapassar os contratempos das horas em que estamos longe um do outro. Os exames nacionais estão a bater-me à porta, tal a imagem da Morte vestida de negro munida de uma foice para nos levar a lucidez e as últimas forças. Parecendo que não, acabei ontem o secundário e espero não ter de voltar a sentar-me naqueles bancos de escola. Foram doze anos e do que eu preciso mesmo é de férias. Mas não as vou ter. Não ainda. Falta agora dar o litro, vestir a camisola, fingir que afinal não estou doente e que destas próximas semanas depende o resto da minha vida. Depois logo se vê. Se as faculdades têm lugar para mim ou não. De que material sou eu feita e por quanto tempo fui feita para durar.
Estou cansada… imensamente cansada… seguro a cabeça nas ombreiras das portas, durmo de dia porque de noite oiço as dores de ouvidos, penso em ti e na impossibilidade de te ver enquanto for melhor assim para os dois. Estou cansada… imensa e absurdamente cansada… Não tenho sequer espaço para a nostalgia. Para a saudade. Só tenho espaço para a razão prática que me ensina a somar logaritmos com equilíbrios químicos e com forças electromotrizes. E, claro, tenho também um espaço cativo para ti e outro para Deus, luzinha de cabeceira que me dá sarcasmo o bastante para que tudo isto seja uma brincadeira de crianças e a realidade um sonho mau.


Gosto de ti e dói-me a pontinha de espírito que mostra que tenho limites...

02/06/2007

6.ª Edição do Canto de Contos

Há que perceber. Gosto dele e o Porquê disso tudo não se esgota no facto de ser meu pai. Há que ter em conta a sua forma de ter Sido e de agora ser a sombra do que foi. Talvez o individuo mais notável de sempre. Sem dúvida… o Homem mais capaz, com a arrogância dos poetas cultos, as ideias dos políticos moderados, o sentido de humor de um menino de aldeia que hoje é o mais letrado dos homens, o melhor dos profissionais, o meu pai.
Ele já leu a biblioteca inteira, e pressupondo que isso até é verdade, o que ele escolheu ler foram os clássicos, os Émile Zolas e os Jules Vernes, os Torgas e os Tolstoi. Ele deu mil e uma voltas ao mundo em oitenta dias, naufragando na pessoa tão imediata que é ao duvidar dos génios e dos inovadores. Ele cursou e mestrou, falou-me de filosofia e de física, ficou em silêncio quando devia ter falado, percebeu tudo o que fiz e escondi a vida toda. Porque ele sabe, eu sou igual a ele...
E além de tudo isso, ri de piadas sem graça, vive do e para o desporto que a televisão e os jornais transmitem, não perde um jogo das ligas inglesa, espanhola ou portuguesa, é burguês, bebe cerveja e fala comigo sobre Pessoa, religião e cinema. É autoritarista e desarrumado. Tem o melhor coração do mundo: dá, acha que necessariamente tem de dar e fá-lo com um desprezo notável pelos motivos com que o faz. Fá-lo com a lógica matemática como só os homens mais geniais do mundo conseguem. Racionalizando a bondade. Achando-a tão óbvia e fácil que nos mete confusão como podem as coisas ser diferentes noutros lugares.
A vida com ele é difícil. E porém, sem ele, seria muito mais. Sei que, da idade de onde falo hoje, nada seria possível sem o seu apoio. E é a mais absurda das verdades quando digo que foi ele que me deu o mais fantástico dos votos de confiança. Ele é a minha Pessoa de eleição. Diga lá eu o que disser… :)
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Este post surge no contexto de um desafio literário, cujo tema é uma Pessoa à escolha de cada blogger. Os desafiados foram:
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