Um dia o vazio será tão grande que vou ser capaz de escrever
outra vez. Um dia todas as construções caiem, e um dia todas as construções
nascem de novo. Terra vencida será terra queimada. Entendo enfim que tudo não
passa de um puzzle sem encaixes. Foram muitos começos, mas nenhum que matasse a
raíz do passado, o dia 0 de todas as mágoas, o retrocesso sistemático a uma
Coimbra, a uma Lisboa, todas as fintas que fizemos a nós próprios. Foram
demasiadas partidas. Demasiadas. Foi a expectativa de nos contornarmos, de nos
esquecermos. Foi a traição de todos os regressos; um coração que paralisamos e
que voltamos sempre para salvar.
Salvar o que já não tinha solução. Nunca teve. Esperámos
anos para entender isso. Lutamos ainda contra isso mesmo. Fomos estúpidos,
durante demasiado tempo. Vimos crianças sem opções e quisemos fingir o nosso
problema mesmo assim. Temos nas mãos um mundo que não é nosso e acima de tudo,
temos medo.
Sem comentários:
Enviar um comentário