28/10/2013

Cartas de Lisboa XVIII

É nestes dias em que as coisas más acontecem. Como quando na enfermaria te falam de melhoria terminal e no dia seguinte o teu doente morreu. Assim são os dias de aniversário, com o frenezim das mensagens e dos telefonemas e das surpresas. Assim as cervejas bebidas com pressa. Assim a ressaca de todas as coisas boas: és insultuosamente feliz e depois faz-se silêncio e tu juras que podias morrer asfixiada nesse compasso de espera. Este dia já foi de todas as formas e tu querias seguir sem bagagem, sem ressentimento. Recebeste 145 mensagens, mas é das ausências de que te lembras. É daquele ano de que te lembras. Daquele futuro que se fechou, sem que nunca tenhas aberto um que o compensasse. É de Coimbra de que te lembras. É dele de que te lembras.
E no entanto, e apesar de insultuosamente feliz, e apesar de teres chorado de tanto rir, de teres sorrido de tanto lembrar, a noite fez-se de um silêncio insuportável. Querias ser melhor por todas as coisas incríveis que viveste hoje, mas tudo em ti é uma estúpida e injusta ausência.

1 comentário:

Carlos Soares disse...

Credo! Há muito que não sentia o ar tornar-se rarefeito a ler qualquer coisa. As tuas cartas são lindíssimas.