23/05/2010

Cartas de Coimbra XLIV

Nós perdemos sempre, amor. Perdemos sempre. Viajamos os dois em contra-corrente, com o metal dos comboios dissolvido nas veias e já não temos casa. Somos a casa um do outro e tomamos decisões para que isso nunca nos amarre. Vou viver para outro país porque te amo e quero que descubras tudo o que eventualmente há para além de nós. Eu sei que é o mais certo, mas tenho muito medo. Fecho os olhos e descubro os últimos três anos da minha vida, escondida contigo na sombra de mais um jardim de Lisboa. Ou de Coimbra. Ou a minha cama desfeita, amarfanhada, dividida em dois. Estou tão cansada. Tão cansada. Tirei-te a alma quando te disse que vou embora. E tu sentiste que eu morri nesse momento. Ainda custa a acreditar, mas não, nós não fomos feitos um para o outro.

11/05/2010

Cartas de Coimbra XLIII


Definitivamente uma cidade de segredos. Pela 3ª vez, abraçou-me à sua maneira e eu respondi-lhe ao meu jeito. Quem me dera que as memórias nos aquecessem tanto daqui para frente como a Queima nos aquece hoje. Porque a Queima das Fitas não se dá a entender aos mirones que vêem de fora ver o que não conseguem ver. A Queima das Fitas é dos apaixonados. Dos resistentes. Dos que bebem aos Amigos, aos segredos de Coimbra, às histórias que aconteceram dentro de nós próprios e que nos ensinaram, no fundo, o mais importante. De 2010 vou levar as escadarias das Igrejas, as capas negras sobre as pernas cansadas, as longas conversas que as madrugadas de espera perpetuaram. Vou levar o mais fantástico concerto à chuva e, por isso mesmo, uma alma lavada. Vou levar os momentos de confusão onde o coração pediu mais tempo. Um cortejo feito no braços dos amigos. Os post-its deixados na capa dos livros antes de nos afogarmos nas noites do Parque. As palavras que quase dissemos porque havia talvez amor em toda a cerveja que bebemos. E no final de nove noites, eu sei que nada terá mudado e que tudo o que vivemos durante a semana será enterrado com a normalidade de uma vida que continuamos a empurrar, alheia a tudo. Vamos olhar para a transparência dos outros e vamos sentir-nos agradecidos por Coimbra ter feito parte do caminho.