07/12/2007

"Para ti, desde sempre,"

Acabou enfim... tu vieste e disseste de tua justiça, que há amores de uma neutralidade tão grande que se anulam indeterminadamente para serem de novo o pó de onde vieram... e hoje, nunca pareceu tão legitimo odiar alguém. E, sabes, tento convencer-me que melhor assim. Para ti, desde sempre.

Vieste e foste,
ignoro se poderás voltar. Ontem, ao partires,
não reparaste que me deixavas menos feliz. Embora
tudo ficasse feito e decidido não sei que incompletude me
abalou – talvez a espera.
Perdi-me absurdamente no caminho e, por momentos,
a luz libidinal do teu pensamento
fugiu de mim. As coisas deixaram
a concretude com que sempre as tinha conhecido.
Sem perspectiva, nem letra.
Ao regressar à terra, não quis escrever no teu caderno.
Arranquei-lhe apenas esta folha. Fui um pobre corpo.
Rasguei-me a mim próprio e quis deitar-me fora.
Por isso te deixo este bilhete.
Vieste e foste.
Não foi por isso que te amei menos.
Em mim, não se realizou a tua conjectura sobre a
ressurreição da carne ________
Reconhecerás tu, neste impulso da visão, uma carta de amor?
.
Maria Gabriela Llansol